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Sintomas e Consequências da Deficiência de Vitamina B12

A vitamina B12 tem um papel importante no metabolismo celular, e as causas para a sua deficiência podem incluir má absorção (anemia perniciosa, doenças inflamatórias intestinais, ressecções gástricas ou ileais), uso crônico de metformina e inibidores de bomba de prótons, além de dietas sem suplementação adequada, como em vegetarianos, veganos e idosos. Diretrizes recomendam a monitorização regular dos níveis séricos da vitamina B12 para alguns perfis de pacientes como: Usuários de metformina e inibidor de bomba de prótons, pós-bariátricos, com gastrite atrófica e doença celíaca ou doença de Crohn. Até o momento não há consenso sobre realização de rastreio em outros grupos de risco. O rastreio nos casos citados são  fundamentais uma vez que os sintomas e desfechos clínicos são relativamente tardios para se manifestarem.1-2

Os sintomas para essa deficiência têm uma ampla variação, podendo incluir distúrbios hematológicos, gastrointestinais, psiquiátricos e neurológicos. Entre os sinais mais comuns nas alterações hematológicas, estão macrocitose, podendo ou não já se apresentar com anemia, leucopenia, plaquetopenia ou pancitopenia. Os sintomas são especialmente decorrentes dos casos de anemia grave, incluindo fadiga, dispneia aos esforços, angina e até sintomas relacionados à insuficiência cardíaca congestiva, como edema de tornozelo, ortopneia e noctúria. Também podem surgir tonturas, hipotensão ortostática e glossite grave. Pode ocorrer alterações intestinais, como diarreia ou constipação, e até perda de controle da bexiga ou do intestino, quando há comprometimento dos nervos que regulam essas funções, nos plexos de Meissner e Auerbach no trato gastrointestinal e na bexiga.3

Mesmo na ausência de alterações hematológicas a deficiência de vitamina B12 pode provocar diversos sintomas psiquiátricos e comportamentais, que são frequentemente a manifestação inicial desse tipo de deficiência. Entre os quadros mais frequentes estão alterações de humor, como depressão, ansiedade, irritabilidade, mania e até psicose. Também são comuns queixas no comprometimento cognitivo, como confusão mental, problemas de memória, dificuldades de aprendizagem e insônia, além de dores de cabeça, especialmente enxaquecas. No campo neurológico, a deficiência pode causar parestesia periférica, dormência, dores neuropáticas, falta de equilíbrio, zumbido, ataxia e até alterações motoras, como fraqueza muscular, espasticidade e convulsões. Em muitos casos, esses sintomas aparecem antes mesmo de qualquer sinal de anemia. 3-4

Muitos desses sintomas são inespecíficos e geralmente não suspeitados como uma possível deficiência. Embora o diagnóstico também sofra com a ausência de um teste padrão, diversos biomarcadores e a combinação entre eles, como a medição dos níveis séricos de B12, holotranscobalamina (holo-TC), ácido metilmalônico (MMA) e homocisteína plasmática total (Hcy), são frequentemente recomendados para aumentar a precisão diagnóstica, sendo mais eficazes na identificação de deficiências subclínicas do que a utilização de um único teste. A avaliação do estado da vitamina B12 por meio de biomarcadores pode ser desafiadora, já que tanto a sensibilidade quanto a especificidade desses exames são influenciadas por fatores analíticos e biológicos, o que pode gerar incertezas no diagnóstico.4-5

O diagnóstico precoce da deficiência de vitamina B12 é fundamental para prevenir consequências graves e potencialmente irreversíveis, como alguns casos de distúrbios neurológicos e hematológicos. A conscientização dos profissionais deve ser ampliada para que identifiquem e tratem precocemente essa condição, prevenindo principalmente danos cerebrais estruturais permanentes. Além disso, estabelecer a causa da deficiência é essencial, pois pode indicar a necessidade de tratamento de curto prazo, nos casos reversíveis, ou reposição vitalícia, quando irreversível, sendo que a reposição por via oral ou intramuscular, são seguras e sem toxicidade associada.5-7

Diante das limitações dos diagnósticos e ampla variedade de manifestações clínicas, possibilitando desfechos graves e irreversíveis, a deficiência de vitamina B12 deve ser encarada com mais atenção pelos profissionais da saúde. A identificação antecipada e o tratamento adequado não apenas evitam complicações neurológicas permanentes, mas também promovem uma melhora significativa na qualidade de vida dos pacientes. Portanto, avaliar a realização do rastreamento desta deficiência e uma abordagem individualizada de tratamento a curto e longo prazo, são essenciais para garantir um cuidado eficaz e seguro aos pacientes.

Referências bibliográficas

  1. Mucha P, Kus F, Cysewski D, Smolenski RT, Tomczyk M. Vitamin B12 Metabolism: A Network of Multi-Protein Mediated Processes. Int J Mol Sci. 2024 Jul 23;25(15):8021. doi:
  2. Berger MM, Shenkin A, Schweinlin A, et al. ESPEN micronutrient guideline. Clin Nutr. 2022;41(6):1357-1424.
  3. Briani C, Dalla Torre C, Citton V, Manara R, Pompanin S, Binotto G, Adami F. Cobalamin deficiency: clinical picture and radiological findings. Nutrients. 2013 Nov 15;5(11):4521-39.
  4. Wolffenbuttel BHR, McCaddon A, Ahmadi KR, Green R. A Brief Overview of the Diagnosis and Treatment of Cobalamin (B12) Deficiency. Food Nutr Bull. 2024 Jun;45(1_suppl):S40-S49.
  5. Harrington DJ, Stevenson E, Sobczyńska-Malefora A. The application and interpretation of laboratory biomarkers for the evaluation of vitamin B12 status. Ann Clin Biochem. 2025 Jan;62(1):22-33.
  6. Gröber U, Kisters K, Schmidt J. Neuroenhancement with vitamin B12-underestimated neurological significance. Nutrients. 2013 Dec 12;5(12):5031-45.
  7. Spence JD. Metabolic vitamin B12 deficiency: a missed opportunity to prevent dementia and stroke. Nutr Res. 2016 Feb;36(2):109-16.
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