Página inicial > Myralis Class > Artigos > tratamento das doenças nasais na criança

Tratamento das Doenças Nasais na Criança

TRATAMENTO DAS DOENÇAS NASAIS NA CRIANÇA:  LAVAGEM NASAL COM GARRAFA COMPREESÍVEL

Dr. Ricardo Godinho

CRM-MG 26.147 RQE 7.144

(Otorrinolaringologia Pediátrica)

Otorrinolaringologista do Hospital Mater Dei Contorno – Belo Horizonte. Professor da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Professor da Faculdade de Ciências Médicas de Minas Gerais. Doutor em Pediatria pela Universidade Federal de Minas Gerais. Research Fellowship em Otorrinopediatria na Harvard Medical School. MBA pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais

MEDICINA COM BASE EM EVIDÊNCIAS

O uso da solução salina no tratamento das doenças nasais na infância tem merecido uma destacada importância na literatura médica e na prática do consultório de pediatras, otorrinolaringologistas, clínicos, médicos de família e médicos generalistas.

As doenças nasais pediátricas são um desafio para o estilo de vida adotado pela maioria das famílias. O aumento da incidência de infecções respiratórias durante os primeiros anos de vida nas crianças frequentando berçários, creches e escolinhas e o aumento da prevalência

das doenças respiratórias alérgicas, sobretudo nos grandes centros urbanos, têm sobrecarregado o sistema de saúde e comprometido a qualidade de vida de muitas famílias.

O crescente uso de antibióticos, descongestionantes orais e tópicos, antitussígenos e corticoides sistêmicos, pulmonares e nasais tem sido uma alternativa para restaurar a saúde e melhorar a qualidade de vida. A Medicina com Base em Evidências e os Consensos de Especialistas têm demonstrado que o uso adequado da salina nasal pode reduzir o impacto das doenças respiratórias e o uso desses medicamentos.1-6

DIFERENTES MODALIDADES DE SALINA NASAL E POTENCIAL DE PENETRAÇÃO NAS CAVIDADES PARANASAIS

As soluções com soro fisiológico para lavagem nasal estão disponíveis comercialmente numa grande variedade de produtos: conta-gotas, spray, spray em jato contínuo, nebulização, dispositivos com oferta de baixo ou alto volume e com diferentes modalidades de pressão e potência. Dispositivos elétricos com diferentes propostas estão se tornando mais acessíveis ao mercado brasileiro. As cavidades nasais também podem ser lavadas com o auxílio de seringas.

Há cerca de 15 anos, foram lançadas as primeiras propostas que possibilitaram a oferta da salina em forma de sprays e que depois evoluíram para possibilidades com oferta de sprays mais volumosos a cada acionamento. Também se tornaram disponíveis sprays que podiam ser oferecidos em qualquer posicionamento do frasco.

Há uma década, passamos a usar o soro fisiológico em forma de spray em jato contínuo, que pode ofertar um volume ainda maior de salina associado a uma pressão que pode ser mantida e que aumenta as chances de remoção do muco, outras secreções, partículas, aeroalérgenos, micróbios e mediadores inflamatórios.

Apesar de ser uma proposta milenar, o uso das chaleiras (Lota), classificado como dispositivo de irrigação dependente da gravidade, tem se popularizado entre as famílias brasileiras. Os dispositivos que entregam maiores volumes de salina, com baixa pressão ou pressão variável, têm sido motivo de estudos envolvendo modelos de fluidodinâmica, estudos com identificação de contrastes em cadáveres, além de estudos clínicos bem elaborados.7-13

Os dispositivos de alto volume e de baixa pressão também incluem garrafas compressíveis que podem ser submetidas a diferentes intensidades de pressão. Esses produtos exigem que os usuários se posicionem adequadamente e preparem suas próprias soluções, além de manutenção e limpeza regulares do dispositivo. A combinação de baixo custo, disponibilidade, tolerabilidade e melhor distribuição nas cavidades sinusais tornou os dispositivos de baixa pressão e alto volume o “padrão-ouro” para administração de solução salina nasal na rinossinusite crônica e no pós-operatório de cirurgias nasais.1-13

A cabeça inclinada para baixo e pendida lateralmente é recomendada para uma ótima penetração da irrigação em baixo volume nos seios da face. Tal posicionamento tem sido alcançado adequadamente por muitas crianças maiores de 4 anos de idade, segundo minha experiência pessoal. Em nosso país, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) autorizou a utilização da garrafa compressível para lavagem nasal sem limitação de idade. As garrafas podem ser submetidas a diferentes pressões e volumes de acordo com a tolerância de cada criança e, em geral, apresentam boa aderência. O uso em crianças menores, tanto em quadros agudos quanto em propostas de prevenção por períodos prolongados, deve ser feito com a orientação do médico assistente e com acompanhamento adequado dos pais ou cuidadores. Deve-se avaliar de forma criteriosa o uso em crianças com déficit neurológico e deve-se evitar o uso com a criança deitada ou na criança que não coopera com a proposta.1-13

ORIENTAÇÃO PARA O USO DO NASOAR® EM PEDIATRIA

1. Uso sob recomendação do médico e com a supervisão dos pais ou cuidadores.

A Anvisa autorizou a utilização da garrafa compressível para lavagem nasal sem limitação de idade. A experiência de cada médico e a participação consciente dos pais e cuidadores são de estimada importância para a adequada aderência e para a obtenção dos resultados esperados.

2. Preparação da solução nasal

Lavar as mãos com água e sabão. Diluir o conteúdo do envelope em 240 mL de água filtrada dentro da garrafa de Nasoar®. Fechar adequadamente o frasco.

3. Posição para lavagem nasal

Ajudar a criança a se inclinar sobre uma pia, girar a cabeça suavemente para baixo e lateralmente. O cuidador deve inserir gentilmente o bico da garrafa compressível na narina inclinada para cima sem pressioná-lo contra o septo nasal, evitando ferimentos.

4. Aplicação da solução nasal

Pedir à criança que mantenha a boca aberta (selamento da nasofaringe), enquanto aperta a garrafa gentilmente até que a solução flua de uma narina, passando pela nasofaringe e seja eliminada na narina que se encontra em posição inferior. Ao final, solicitar que a criança expire levemente através das duas narinas para limpar o excesso de soro e muco. Repetir o procedimento na outra narina. Ajustar a frequência, o volume e a pressão de acordo com a necessidade do tratamento e com a cooperação da criança:

• crianças menores (2 a 4 anos de idade): tentar usar o máximo de volume por narina, na medida de aceitação da criança e controlando gentilmente a pressão feita na garrafa compressível;

• crianças maiores de 4 anos de idade: tentar usar cerca de 60 a 120 mL por narina, na medida de aceitação da criança e controlando gentilmente a pressão feita na garrafa compressível.

5. Fazer a higienização da garrafa compressível

HIGIENE DAS GARRAFAS COMPRESSÍVEIS PARA LAVAGEM NASAL

As garrafas compressíveis utilizadas para lavagem nasal devem ser limpas após cada uso e substituídas a cada três meses ou de acordo com as diretrizes do fabricante. Opções com envelopes contendo cloreto de sódio (e outras substâncias) reduzem as chances de contaminação. Diferentes estratégias têm sido descritas para reduzir os riscos de contaminação, sobretudo para as salinas preparadas de forma doméstica.14-20

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. Bastier PL, Lechot A, Bordenave L, Durand M, de Gabory L. Nasal irrigation: From empiricism to evidence-based medicine. A review. Eur Ann Otorhinolaryngol Head Neck Dis. 2015;132:281-5. 2. Chong LY, Head K, Hopkins C, Philpott C, Glew S, Scadding G, et al. Saline irrigation for chronic rhinosinusitis. Cochrane Database Syst Rev. 2016;4:CD011995. 3. Fokkens WJ, Lund VJ, Hopkins C, Hellings PW, Kern R, Reitsma S, et al. European Position Paper on Rhinosinusitis and Nasal Polyps 2020. Rhinology. 2020;58(Suppl S29):1-464. 4. Orlandi RR, Kingdom TT, Hwang PH. International Consensus Statement on Allergy and Rhinology: rhinosinusitis executive summary. Int Forum Allergy Rhinol. 2016;6(Suppl 1):S3-21. 5. Rabago D, Zgierska A. Saline Nasal Irrigation for Upper Respiratory Conditions. Am Fam Physician. 2009;80:1117-9. 6. Succar EF, Turner JH, Chandra R. Nasal saline irrigation: a clinical update. Int Forum Allergy Rhinol. 2019;9(S1):S4-8. 7. Abadie WM, McMains KC, Weitzel EK. Irrigation penetration of nasal delivery systems: a cadaver study. Int Forum Allergy Rhinol. 2011;1:46-9. 8. Chen PG, Murphy J, Alloju LM, Boase S, Wormald PJ. Sinus penetration of a pulsating device versus the classic squeeze bottle in cadavers undergoing sinus surgery. Ann Otol Rhinol Laryngol. 2017;126:9-13. 9. Craig JR, Palmer JN, Zhao K. Computational fluid dynamic modeling of nose-to-ceiling head positioning for sphenoid sinus irrigation. Int Forum Allergy Rhinol. 2017;7:474-9. 10. Halderman AA, Stokken J, Sindwani R. The effect of middle turbinate resection on topical drug distribution into the paranasal sinuses. Int Forum Allergy Rhinol. 2016;6:1056-61. 11. Harvey RJ, Goddard JC, Wise SK, Schlosser RJ. Efeitos da cirurgia endoscópica do seio e dispositivo de administração na irrigação do seio de cadáveres. Otorrinolaringologia Cabeça Pescoço Surg. 2008;139:137-42. 12. Manes RP, Tong L, Batra PS. Prospective evaluation of aerosol delivery by a powered nasal nebulizer in the cadaver model. Int Forum Allergy Rhinol. 2011;1:366-71. 13. Thomas WW 3rd, Harvey RJ, Rudmik L, Hwang PH, Schlosser RJ. Distribution of topical agents to the paranasal sinuses: an evidence-based review with recommendations. Int Forum Allergy Rhinol. 2013;3:691- 703. 14. Hardy ET, Stringer SP, O’Callaghan R, Arana A, Bierdeman MA, May WL. Strategies for decreasing contamination of homemade nasal saline irrigation solutions. Int Forum Allergy Rhinol. 2016;6:140-2. 15. Hauser LJ, Ir D, Kingdom TT, Robertson CE, Frank DN, Ramakrishnan VR. Evaluation of bacterial transmission to the paranasal sinuses through sinus irrigation. Int Forum Allergy Rhinol. 2016;6:800-6. 16. Ordemann AG, Stanford JK 2nd, Sullivan DC, Reed JM. Can contaminated water be rendered safe for nasal saline irrigations? Laryngoscope. 2017;127:1513-9. 17. Piper KJ, Foster H, Susanto D, Maree CL, Thornton SD, Cobbs CS. Fatal Balamuthia mandrillaris brain infection associated with improper nasal lavage. Int J Infect Dis. 2018;77:18-22. 18. Psaltis AJ, Foreman A, Wormald PJ, Schlosser RJ. Contamination of sinus irrigation devices: a review of the evidence and clinical relevance. Am J Rhinol Allergy. 2012;26:201-3. 19. Sowerby LJ, Wright ED. Tap water or “sterile” water for sinus irrigations: what are our patients using? Int Forum Allergy Rhinol. 2012;2:300-2. 20. Yoder JS, Straif-Bourgeois S, Roy SL, Moore TA, Visvesvara GS, Ratard RC, et al. Primary amebic meningoencephalitis deaths associated with sinus irrigation using contaminated tap water. Clin Infect Dis. 2012;55:e79-85.

 

Conteúdo desenvolvido pelo departamento médico da DENDRITA HEALTH MARKETING® Produção editorial: DENDRITA HEALTH MARKETING® Copyright 2020. 13125_MYR_BRA_CLE_v8

lavagem nasalsaúde respiratória otorrinolaringologia
pediatria