A obesidade é definida como o acúmulo excessivo de gordura, com efeitos negativos sobre a saúde1.
O índice de massa corporal (IMC) é usado para classificar a obesidade e o sobrepeso. Ele é calculado usando-se a massa em quilogramas dividida pela altura, em metros, elevada ao quadrado (kg/m2)1.
Sinais antropométricos de alerta à ocorrência de obesidade:
Aumento do IMC > 3-4 unidades por ano e/ou mudança de canais percentuais/escore Z, mesmo quando o IMC ainda estiver compatível com eutrofia, risco de sobrepeso e sobrepeso2. (tabela 1)
Condição |
Idade 0-5 anos Pontos de corte Z escore |
Idade 5-19 anos Pontos de corte Z escore |
Aos 19 anos Pontos de corte IMC (Kg/m³) |
Eutrófico | -2,0 ≤ Z ≤ +1,0 | -2,0 ≤ z ≤ +1,0 | |
Risco de sobrepeso | + 1,0 < Z ≤ +2,0 | - | |
Sobrepeso | +2,0 < Z ≤ +3,0 | +1,0 ≤ z ≤ +2,0 | 25,0 |
Obesidade | Z > 3,0 | +2,0 < Z ≤ +3,0 | 30,0 |
Obesidade grave | - | z > +3,0 |
Tabela 1. Classificação da condição nutricional, de acordo com o escore Z do índice de massa corporal/idade
Adaptada de: Sociedade de Pediatria de São Paulo. Atualize-se. Boletim da Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2019; 4(2): 5-142.
Prevalência
No mundo:, o número de crianças com obesidade pode alcançar 75 milhões em 20253.
Nos EUA: A prevalência da obesidade varia de acordo com fatores raciais, étnicos e socioeconômicos e aumenta com a idade4:
Sobrepeso ou obesidade4:
o 22.8% com 2-5 anos de idade;
o 34.2% com 6-11 anos de idade;
o 34.5% com 12-19 anos de idade.
Obesidade4:
o 8.4% com 2-5 anos de idade;
o 17.7% com 6-11 anos de idade;
o 20.5% com 12-19 anos de idade.
No Brasil, uma em cada três crianças (de 5 a 9 anos de idade) está acima do peso.3 Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional3 e do Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI)5, ambos de 2019, mostram as seguintes prevalências (tabela 2):
Crianças com menos de 5 anos | Crianças de 5 a 10 anos | Adolescentes | |
Sobrepeso | 7,00% | 14,96% | 18,25% |
Obesidade | 3,00% | 8,22% | 7,91% |
Obesidade grave | - | 4,97% | 1,80% |
Tabela 2. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes
Adaptada de: Ministério da Saúde. Obesidade infantil é fator de risco para doenças respiratórias, colesterol alto, diabetes e hipertensão. 3 fev. 20223. Universidade Federal do Rio de Janeiro. ENANI 20195.
Diagnóstico precoce
O diagnóstico precoce visa a identificação de fatores que possivelmente estejam associados ao ganho de peso na anamnese, exame físico e antropométrico2.
Anamnese2:
· Condições de nascimento
· Hipotonia nos primeiros meses de vida
· Doenças anteriores
· Uso de medicações (glicocorticoides e medicações psicotrópicas)
· Idade de início do ganho de peso
· Desenvolvimento puberal
· Alimentação
· Exercício físico
· História familiar
Exame físico2:
· Pesquisa de desvios fenotípicos
· Acantose nigricans
· Medida da pressão arterial
· Estádio puberal de Tanner
Antropometria2:
· Peso e altura
· IMC
· Velocidade de crescimento (em cm/ano)
· Avaliação da distribuição da gordura (circunferência abdominal, em cm)
Influência familiar e efeitos cardiometabólicos
As doenças cardiovasculares com origem na obesidade infantil têm múltiplas consequências médicas, sociais e econômicas que podem não ser manejáveis mais tarde na vida. 6. Assim, a prevenção parece ser a única estratégia efetiva. As estratégias preventivas devem incluir as famílias inteiras e, idealmente, ser iniciadas antes da concepção6.
O risco aumentado de obesidade se dá antes e durante a gestação6.
o A saúde parental influencia o desenvolvimento do feto e o risco de obesidade na infância e adolescência6.
o O papel da dislipidemia, hiperinsulinismo e hipertensão relacionadas à obesidade infantil sobre o aumento do risco cardiovascular já foi comprovado6.
o Novos fatores de risco, como o tabagismo materno, padrão de crescimento pós-natal e impacto de componentes da dieta sobre a expressão gênica, vêm sendo explorados6.
A alimentação no início da vida e a obesidade
Evidências também sugerem que vários fatores do início da vida contribuem de forma significativa para o desenvolvimento da obesidade7.
Os primeiros 1.000 dias, que vão da concepção até os dois anos de idade, são considerados o período mais crítico para indução dos desarranjos
fisiopatológicos que eventualmente levam à obesidade infantil e adulta7. (tabela 3)
Fase nutricional | Fator de risco | |
Pré-natal (0–280 dias) |
· IMC materno alto antes da gestação · Ganho de peso materno excessivo durante a gestação · Diabetes mellitus materno (gestacional ou tipo 1) · Predisposição genética |
Possíveis alvos de intervenções para prevenção da obesidade infantil
- Abordar a influência materna durante a gestação - Incentivar a amamentação - Evitar estabelecimento precoce de dieta sólida |
Amamentação / fórmula (280 dias – 6 meses de idade) |
Uso de fórmula: · Curva de crescimento acelerada · Alta ingestão de energia · Alta concentração de proteínas · Baixa concentração de ácidos graxos poli- insaturados |
|
Introdução de alimentos e dieta inicial (6 meses–2 anos de idade) |
Introdução de alimentos e dieta inicial (6 meses–2 anos de idade) · Ganho de peso acelerado · Introdução precoce de alimento sólidos · Alta ingestão de proteínas · Microbioma intestinal |
Tabela 3. Principais fatores de risco nos primeiros 1.000 dias para o desenvolvimento da obesidade infantil Adaptada de: Mameli C, et al. Int J Environ Res Public Health. 2016 Aug 23;13(9):8387.
Experiências adversas na infância e obesidade
Estudos têm mostrado que as experiências adversas na infância estão associadas com a obesidade8.
- As meninas parecem ser mais sensíveis ao efeito das experiências adversas na infância sobre a obesidade;
- O abuso sexual parece ter o maior efeito sobre a obesidade em comparação com outras experiências adversas;
- O efeito das experiências adversas sobre a obesidade se manifesta após 2 a 5 anos.
Tratamento
A obesidade deve ser identificada e tratada o mais precocemente possível. O tratamento deve continuar longitudinalmente da infância para a adolescência e vida adulta por meio de transição planejada9. |
O tratamento intensivo para comportamento e estilo de vida é a base para atingir a redução da massa corporal ou atenuação do ganho de peso excessivo em crianças9. |
Adaptada de: Hampl SE, et al. Pediatrics. 2023 Feb 1;151(2):e20220606409. | Adaptada de: Hampl SE, et al. Pediatrics. 2023 Feb 1;151(2):e20220606409. |
Prevenção
Que tipos de programas de prevenção da obesidade infantil funcionam?
Há evidência moderadamente forte da efetividade de intervenções baseadas apenas em atividade física feitas em escolas e com envolvimento da família, ou de intervenções combinando dieta e atividade física feitas em escolas e envolvendo tanto a família quanto a comunidade10.
Referências
- World Health Obesity and overweight. 2021. Disponível em:
https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/obesity-and-overweight. Acesso em: 6 nov. 2023.
- Sociedade de Pediatria de São Enfrentando a obesidade infantil. Setembro laranja. Atualize-se. Boletim da Sociedade de Pediatria de São Paulo, 2019; 4(2): 5-14.
- Ministério da Saúde. Obesidade infantil é fator de risco para doenças respiratórias, colesterol alto, diabetes e hipertensão. 3 fev. 2022. Disponível em:
https://aps.saude.gov.br/noticia/17518#:~:text=As%20notifica%C3%A7%C3%B5es%20do%20Sistema
%20de,%2C97%25%20com%20obesidade%20grave. Acesso em: 28 nov. 2023.
- Kumar S, Kelly Review of Childhood Obesity: From Epidemiology, Etiology, and Comorbidities to Clinical Assessment and Treatment. Mayo Clin Proc. 2017 Feb;92(2):251-265.
- Universidade Federal do Rio de Janeiro. Estado Nutricional Antropométrico da Criança e da Mãe: Prevalência de indicadores antropométrico de crianças brasileiras menores de 5 anos de idade e suas mães biológicas: ENANI 2019. Rio de Janeiro, RJ: UFRJ, 2022: 96 p. Disponível em:
https://enani.nutricao.ufrj.br/index.php/relatorios/. Acesso em: 28 nov. 2023.
- Drozdz D, Alvarez-Pitti J, Wójcik M, Borghi C, Gabbianelli R, Mazur A, Herceg-Čavrak V, et Obesity and Cardiometabolic Risk Factors: From Childhood to Adulthood. Nutrients. 2021 Nov 22;13(11):4176.
- Mameli C, Mazzantini S, Zuccotti Nutrition in the First 1000 Days: The Origin of Childhood Obesity. Int J Environ Res Public Health. 2016 Aug 23;13(9):838.
- Schroeder K, Schuler BR, Kobulsky JM, Sarwer The association between adverse childhood experiences and childhood obesity: A systematic review. Obes Rev. 2021 Jul;22(7):e13204.
- Hampl SE, Hassink SG, Skinner AC, Armstrong SC, Barlow SE, Bolling CF, et Clinical Practice
Guideline for the Evaluation and Treatment of Children and Adolescents with Obesity. Pediatrics. 2023 Feb 1;151(2):e2022060640.
- Wang Y, Cai L, Wu Y, Wilson RF, Weston C, Fawole O, et What childhood obesity prevention programmes work? A systematic review and meta-analysis. Obes Rev. 2015 Jul;16(7):547-65.