O importante papel da vitamina D no organismo humano já é bem estabelecido na literatura nacional e internacional, principalmente de sua atuação na formação óssea, facilitando a absorção de cálcio, um importante mineral crucial no desenvolvimento fetal.1,2,3,4
Cabe destacar que tais nutrientes precisam de aportes necessários durante a gestação, a fim de suprir as demandas fetais ematernas4,5. No entanto, a hipovitaminose D durante o período gravídico ainda é comumente vista em algumas populações,1,6 com alta prevalência no Brasil7.
A suplementação de vitamina D durante a gestação é segura, trazendo benefícios para o crescimento e desenvolvimento dos bebês, atuando especialmente na formação óssea no início da vida. Sabe-se também que a vitamina D desempenha importante modulação na função imunológica e no estresse oxidativo, o que pode ter relação com o crescimento fetal8.
Uma meta-análise publicada em 2025, composta por 66 ensaios clínicos, demonstrou que a suplementação de vitamina D em média de 2.000ui ao dia, diminuiu o risco de diabetes gestacional em 35% e melhorou o peso ao nascer com média de ganho de 53,14g, o comprimento corporal em 0,24 cm e a circunferência cefálica em 0,17cm9.
Outra metanálise publicada na revista JAMA, contendo no total 5.405 pacientes dentre todos os estudos selecionados, avaliou se a suplementação de vitamina D teria algum impacto em desfechos neonatais. Tanto o risco de ao nascimento o bebê apresentar-se pequeno para idade gestacional (PIG) como peso ao nascer, tiveram desfechos positivos, com redução de risco de PIG e maior peso ao nascimento. Ao se analisar a mortalidade fetal e neonatal, o grupo que recebeu doses de vitamina D de 2.000ui ao dia apresentou redução do risco destes eventos ocorrerem8.
Um estudo retrospectivo, publicado em junho de 2025, com gestantes saudáveis, primigestas, de idade entre 20 e 40 anos, foram avaliadas em 3 diferentes grupos, um grupo placebo, um grupo com suplementação de cálcio 600mg associado a 1.000ui de vitamina D, dose esta estipulada pela organização mundial de saúde, e um último grupo com suplementação de cálcio em 1.200mg associado a 1.000ui de vitamina D. Os grupos que receberam cálcio em associação com vitamina D tiveram menor diagnóstico de diabetes gestacional, pré eclampsia e hipertensão gestacional. Houve também avaliação de desfechos neonatais, como peso ao nascer e valores da escala Apgar no primeiro minuto do nascimento e ambos os desfechos apresentaram resultados positivos de melhora. Alguns desfechos possuíram resultado de p-valor significativo, porém descrito pelos autores que os grupos já possuíam diferenças significativas antes da análise de intervenção, sendo desconsiderados como desfechos positivos. Aqui a avaliação conteve a suplementação de cálcio que já é sabido diminuir o risco de pré eclampsia10.
Em sua recente diretriz clínica, a Endocrine Society sugere a suplementação empírica da vitamina D durante a gestação, com o objetivo de diminuição de risco de pré eclampsia, PIG, parto prematuro, mortalidade intrauterina e neonatal³. 
Aqui não se contempla a diminuição de risco de diabetes gestacional, porém como visto anteriormente, também há a diminuição de risco para esta comorbidade em outros estudos, e a própria sociedade orienta dose empírica de vitamina D para pré-diabéticos (não gestantes) para diminuição de risco de progressão para diabetes tipo 2. Ou seja, já é sabido que a vitamina D possui ação na secreção de insulina orgânica. A média de vitamina D utilizada nos estudos avaliados pela Endocrine Society foi de 2.500ui ao dia (600 a 5.000ui) ³.
Apesar da suplementação de vitamina D ser recomendada, especialmente nas gestantes com hipovitaminose visando prevenir eventos adversos6, a dosagem diária a ser ingerida ainda não é um consenso na literatura e pode divergir entre países e sociedades profissionais2,1.
No Brasil, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia recomenda tanto a dosagem sérica de vitamina D quanto a sua suplementação para todas as gestantes, sendo o mínimo de 600ui ao dia para gestantes em risco de deficiência11. Para paciente com deficiência já estabelecida a recomendação é de 4.000ui ao dia12.
Frente as recomendações, ensaios clínicos e meta-análises expostas, não há dúvidas da necessidade e benefício da suplementação de vitamina D para gestantes.
Referências
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