Início Myralis Class Artigos vitamina d e oncologia: novas perspectivas terapêuticas

Vitamina D e Oncologia: Novas Perspectivas Terapêuticas

A vitamina D, tradicionalmente associada à saúde óssea, tem emergido como um modulador relevante na oncologia, influenciando mecanismos celulares, imunológicos e metabólicos relacionados à progressão tumoral.1,2 Estudos recentes, incluindo o VITAL Trial, relacionando a vitamina D e mortalidade por câncer avançado e fatal, ajudou a novos entendimentos na sinalização intracelular e possíveis novas perspectivas terapêuticas, assim como em manejo de doenças autoimunes 2,3

O VITAL trial, demonstrou que a suplementação diária de 2.000 UI de vitamina D foi segura, sem efeitos adversos importantes, porém não diminuiu a incidência de câncer invasivo no geral. Embora o defecho primário não tenha sido obtido, a suplementação diminuiu a mortalidade por câncer fatal com significância estatística, com efeito mais pronunciado em indivíduos com IMC < 20 kg/m². Estes participantes apresentaram uma redução mais significativa da mortalidade por câncer fatal com a suplementação de vitamina D que pacientes com IMC ≥ 30 kg/m². Mais estudos são necessários para entender melhor esta relação. A vitamina D é possivelmente promissora em reduzir risco de câncer avançado ou fatal.

Em câncer de próstata, uma das palestras ressaltou a relação de pacientes com resistência a quimioterapia com docetaxel, e a associação da suplementação com vitamina D com análise em roedores das vias patológicas envolvidas. Revelou uma resposta terapêutica positiva, após a suplementação, sugerindo que a ativação do receptor de vitamina D (VDR) pode estar relacionado com o aumento da sensibilidade tumoral a este tratamento quimioterápico. Já em relação as metástases evidenciaram que quanto maior a quantidade e circulação de neutrofilos, maior é a  disseminação hepática de células tumorais responsáveis por piores prognósticos. Também foi evidenciado que esta circulação de neutrofilos tem relação com os níveis de vitamina D. Desta forma, os neutrófilos se tornaram um alvo importante para evitar a disseminação tumoral, sendo este um alvo estratégico para novas  propostas terapêuticas e indicando um possivel caminho atraves de análogos de vitamina D sem efeitos hipercalcêmicos. Vale lembrar que a Vitamina D sozinha não exerce efeito de tratamento, mas juntamente com outros tratamentos a novos alvos, tem potencial de ser efetiva no controle da doença.

Uma descoberta relevante ainda relacionada ao câncer de próstata foi a existência de novos biomarcadores, como a proteína luminal C2, identificada inicialmente em roedores como marcador de recaida tumoral (posteriormente encontrada em humanos) e do efeito de redução do marcador proliferativo Ki67 após a suplementação de vitamina D. Através de estudos com a vitamina D, mais este novos alvos terapêuticos surgem para avaliação.

Também foi um destaque no congresso a inter-relação entre diabetes tipo 2 (DM2), câncer de cólon e vitamina D. Dados do NHANES demonstraram que aumentar níveis séricos de vitamina D de 20 para 48 ng/mL reduziu a incidência de DM2. Assim como o DM2, o câncer de cólon também está relacionado a vitamina D. Foi proposto a existência de uma relação entre vitamina D, DM2 e câncer de cólon, através da via da WNT/beta-catenina. A via da beta-catenina é uma via de proliferação e diferenciação celular. Em cânceres de cólon com mutação do gene APC, esta via está frequentemente ativada. A forma como a vitamina D age contra o câncer colorretal está relacionada a regulação do SIRT1, um modificador epigenético. A vitamina D gera aumento do SIRT 1 e este por sua vez realiza a desacetilação da beta catenina, inativando e evitando que ela vá ao núcleo e realize a ativação de genes tumorigênicos.

O SIRT1 pode ser um alvo terapêutico em pacientes com câncer de colon avançado, principalmente porque pacientes com câncer de cólon avançado frequentemente apresentam perda da expressão de VDR, reforçando a importância desta via como alvo terapêutico emergente.

A vitamina D, embora não exerça efeito antitumoral isolado, se apresenta como modulador significativo em diferentes contextos oncológicos, possivelmente podendo potencializar a eficácia de terapias convencionais.2,4,5,6 O papel da suplementação adequada e a exploração de análogos de vitamina D prometem expandir o arsenal terapêutico, oferecendo estratégias personalizadas baseadas em biomarcadores e vias moleculares específicas. 2,4,5 Estudos adicionais são essenciais para consolidar essas observações e definir protocolos clínicos otimizados e seguros.2,3

 

O que é o Workshop de vitamina D?

O Workshop de vitamina D é um congresso científico, multidisciplinar, englobando diferentes profissionais da área da saúde que trabalham em pesquisas com vitamina D. O evento contava com participantes de diversas localidades mundiais, tanto palestrantes como expectadores. A organização do evento foi realizada pela Sra. Carmem Reynolds e Sra. JoEllen, da Clínica Mayo, em parceria com Dr. Carlos Bernal-Mizrachi (Universidade de Missouri) e Sr. John White (Universidade McGill).

Saiba mais em: https://vitamindworkshop.org/montreal-2025

Referências:

  1. Manson JE, Cook NR, Lee IM, Christen W, Bassuk SS, Mora S, Gibson H, Gordon D, Copeland T, D'Agostino D, Friedenberg G, Ridge C, Bubes V, Giovannucci EL, Willett WC, Buring JE; VITAL Research Group. Vitamin D Supplements and Prevention of Cancer and Cardiovascular Disease. N Engl J Med. 2019 Jan 3;380(1):33-44.
  2. Keum N, Lee DH, Greenwood DC, Manson JE, Giovannucci E. Vitamin D supplementation and total cancer incidence and mortality: a meta-analysis of randomized controlled trials. Ann Oncol. 2019 May 1;30(5):733-743.
  3. Len-Tayon K, Beraud C, Fauveau C, Belorusova AY, Chebaro Y, Mouriño A, Massfelder T, Chauchereau A, Metzger D, Rochel N, Laverny G. A vitamin D-based strategy overcomes chemoresistance in prostate cancer. Br J Pharmacol. 2024 Nov;181(21):4279-4293.
  4. García-Martínez JM, Chocarro-Calvo A, Martínez-Useros J, Regueira-Acebedo N, Fernández-Aceñero MJ, Muñoz A, Larriba MJ, García-Jiménez C. SIRT1 Mediates the Antagonism of Wnt/β-Catenin Pathway by Vitamin D in Colon Carcinoma Cells. Int J Biol Sci. 2024 Oct 7;20(14):5495-5509.
  5. García-Martínez JM, Chocarro-Calvo A, Martínez-Useros J, Fernández-Aceñero MJ, Fiuza MC, Cáceres-Rentero J, De la Vieja A, Barbáchano A, Muñoz A, Larriba MJ, García-Jiménez C. Vitamin D induces SIRT1 activation through K610 deacetylation in colon cancer. Elife. 2023 Aug 2;12:RP86913.
endocrinologia
endocrinologia pediátrica
oncologia