Recentemente diversos estudos têm investigado não apenas os níveis séricos da vitamina D maternos, mas também a presença de seus metabolitos no leite materno e sua influência na nutrição do bebê. A atividade da vitamina D do leite materno é determinada principalmente pelas concentrações de vitamina D2, vitamina D3 e seus metabólitos hidroxilados, com níveis fortemente influenciados pelo estado materno de vitamina D, suplementação e exposição solar. Mesmo com a suplementação materna, o aumento no conteúdo de vitamina D no leite materno é modesto e geralmente não atinge níveis adequados para ingestão exclusiva de bebês.1-3
É confirmado na literatura médica a presença de metabólitos sulfatados da vitamina D no leite materno. Especificamente, o sulfato de vitamina D3 (VitD3-S) e o sulfato de 25-hidroxivitamina D3 (25OHD3-S) foram identificados tanto no soro quanto no leite materno de mulheres lactantes. A VitD3-S é notavelmente mais abundante no leite materno do que o 25OHD3-S, que é altamente abundante no soro materno.4,5
Dentre os tipos de vitamina D presentes no leite materno, a em maior concentração é o colecalciferol, e em seguida o vitD3-S. As concentrações de calcifediol e calcitriol são muito baixas e quase indetectáveis respctivamente. Em uma das avaliações feitas pela equipe da clínica Mayo (EUA), observou-se que com a refrigeração do leite materno, a estrutura dos metabolitos sulfatados era modificada, reduzindo sua estabilidade em menos de 18 horas. A suplementação materna de vitamina D também não aumentou diretamente a quantidade de sulfato no leite. Vale destacar que os sulfatos estão presentes no leite em concentrações aproximadamente duas vezes maiores que no sangue. Os sulfatos de vitamina D tem papel importante na nutrição dos bebês. Eles agem como uma reserva de vitamina D que é transportável, e por serem hidrossolúveis, há facilidade de absorção intestinal frente ao colecalciferol vindo da suplementação/amamentação, sendo então uma forma biodisponível importante ao bebê. O vitD3-S pode ser convertido em vitamina D3 livre e seguir a via de metabolização habitual da vitamina D.
Por outro lado, metabólitos da vitamina D provenientes da hidroxilação (25 OH vitamina D, e 1,25 OH vitamina D), frente a suplementação, apresentam aumento no leite materno, de forma dose dependente. Para gerar uma quantidade de vitamina D capaz de suprir as necessidades totais dos bebês, seria necessária uma suplementação com doses de 6.400UI ou mais ou dia, o que não é rotineiramente recomendado7.
Os metabólitos hidroxilados podem posteriormente serem convertidos em sulfato, porém esta via é de ocorrência mais rara. Algumas bactérias intestinais são capazes de realizar a sulfatação, levantando-se então, a hipótese de que em bebês, essa via poderia influenciar a quantidade de sulfato disponível no organismo. Notou-se que lactentes alimentados com fórmulas apresentam menor sulfatação intestinal, permanecendo a dúvida sobre se seria mais vantajoso (para manter VitD3-S em níveis adequados para o bebê) estocar o leite materno ou utilizar fórmulas.
A relevância fisiológica é ainda sugerida pela observação de que esses metabólitos sulfatados não mudam significativamente com a suplementação materna de vitamina D, indicando um mecanismo regulado para sua presença no leite, independente do estado sérico de vitamina D materna.6
Embora o sulfato de vitamina D seja evidenciado como um fator importante para a nutrição infantil, ainda são necessárias mais pesquisas para determinar estratégias que mantenham níveis adequados desse metabolito em bebês que não recebem alimentação direta do seio materno em tempo integral.
O que é o Workshop de vitamina D?
O Workshop de vitamina D é um congresso científico, multidisciplinar, englobando diferentes profissionais da área da saúde que trabalham em pesquisas com vitamina D. O evento contava com participantes de diversas localidades mundiais, tanto palestrantes como expectadores. A organização do evento foi realizada pela Sra. Carmem Reynolds e Sra. JoEllen, da Clínica Mayo, em parceria com Dr. Carlos Bernal-Mizrachi (Universidade de Missouri) e Sr. John White (Universidade McGill).
Saiba mais em: https://vitamindworkshop.org/montreal-2025
Referências
- við Streym S, Højskov CS, Møller UK, Heickendorff L, Vestergaard P, Mosekilde L, Rejnmark L. Vitamin D content in human breast milk: a 9-mo follow-up study. Am J Clin Nutr. 2016 Jan;103(1):107-14.
- Durá-Travé T, Gallinas-Victoriano F. Pregnancy, Breastfeeding, and Vitamin D. Int J Mol Sci. 2023 Jul 25;24(15):11881.
- Wall CR, Stewart AW, Camargo CA Jr, Scragg R, Mitchell EA, Ekeroma A, Crane J, Milne T, Rowden J, Horst R, Grant CC. Vitamin D activity of breast milk in women randomly assigned to vitamin D3 supplementation during pregnancy. Am J Clin Nutr. 2016 Feb;103(2):382-8.
- Reynolds CJ, Dyer RB, Oberhelman-Eaton SS, Konwinski BL, Weatherly RM, Singh RJ, Thacher TD. Sulfated vitamin D metabolites represent prominent roles in serum and in breastmilk of lactating women. Clin Nutr. 2024 Sep;43(9):1929-1936.
- Lakdawala DR, Widdowson EM. Vitamin-D in human milk. Lancet. 1977 Jan 22;1(8004):167-8.
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- Hollis BW, Wagner CL, Howard CR, Ebeling M, Shary JR, Smith PG, Taylor SN, Morella K, Lawrence RA, Hulsey TC. Maternal Versus Infant Vitamin D Supplementation During Lactation: A Randomized Controlled Trial. Pediatrics. 2015 Oct;136(4):625-34. doi: 10.1542/peds.2015-1669. Erratum in: Pediatrics. 2019 Jul;144(1):e20191063