Doses recomendadas: Vitamina D na saúde das Mulheres pós-menopausadas em tratamento para Osteoporose
De acordo com a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO), “as fraturas osteoporóticas são comuns e representam um grave problema de saúde pública entre as mulheres pós-menopausadas” [1]. Eis que a osteoporose é uma doença caracterizada pela desordem na remodelação óssea, no qual leva a uma deterioração deste tecido, e, consequentemente, ao risco de fraturas. Com isso em mente, é dado que com a entrada no período do climatério, as mulheres enfrentam uma insuficiência hormonal estrogênica, resultando na perda de DMO (Densidade Mineral Óssea) de forma acentuada [2]. Nesse contexto, destacamos a importância da presença da vitamina D, pois é dela a única fonte do aumento da calcemia fora o osso. Este, pela ausência dos estrógenos sofre uma deterioração durante o predomínio do PTH (baixa calcemia).
Evidências apontam para o papel dos principais responsáveis na homeostase do cálcio, dentre eles a 1,25(OH)2D que estimula a absorção de cálcio no intestino. Além da possibilidade do enfraquecimento da estrutura óssea, devemos levar em conta o aspecto muscular. A fraqueza muscular decorrente da deficiência de vitamina D é um fator não diretamente relacionado ao metabolismo ósseo, mas que contribui para o aumento no risco de fraturas por fragilidade, pois causa desequilíbrio e aumento no número de quedas, principalmente, na população idosa [1].
Em uma população de mulheres pós-menopausadas em tratamento para Osteoporose acompanhadas em ambulatório específico [6], demonstrou-se que doses semanais superiores a 7.000 UI (> 1.000 UI/dia) são necessárias para que se atinja a suficiência de vitamina D (25(OH)D > 30 ng/mL), o que está de acordo com a proposição da Endocrine Society para populações idosas de risco (Tabela 1). Segundo esse trabalho brasileiro, 73% dos pacientes, acompanhados há pelo menos três meses em ambulatório direcionado para tratamento da osteoporose, estavam abaixo da meta desejada (> 30 ng/mL) (Figura 1). Nesse mesmo trabalho, uma correlação positiva foi encontrada entre concentrações de 25(OH)D e DMO de fêmur e uma correlação negativa com o PTH [6].
Figura 1 - Adaptado de Maeda SS, Borba VZ, Camargo MB, Silva DM, Borges JL, Bandeira F, et al. [3]
Segundo as diretrizes SBEM (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e da Diretriz Brasileira de Diagnóstico e Tratamento da Osteoporose em Mulheres na Pós-Menopausa – Febrasgo (Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia), as recomendações de uso para se obter níveis de Vitamina D acima de 30 ng/mL para o grupo de risco para a deficiência, são por meio de esquemas de ataque nas primeiras semanas com a elevação dos níveis séricos [1]. E logo depois, com doses de manutenção, como detalhados abaixo [tabela 1].
Tabela 1 – Esquemas de doses de ataque e manutenção de vitamina D recomendadas para população de risco para deficiência (*) (Adaptado de Maeda SS, Borba VZ, Camargo MB, Silva DM, Borges JL, Bandeira F, et al. [3] com base nas tabelas nutricionais do Institute of Medicine e da Endocrine Society.)
Doses de ataque (quando o nível sérico estiver inferior a 30 ng/mL):
50.000 UI/semana ou 7000UI/dia (*)
Período: de 6 a 8 semanas até que se atinjam os níveis adequados
Doses de manutenção (Uso contínuo) (*)
Faixa etária: 19 a 70 anos
Faixa etária: > 70 anos
Recomendação Diária 1500 – 2000 UI/dia
A administração de vitamina D pode ocorrer em intervalos maiores, como doses semanais ou mensais devido a maior meia-vida deste nutriente [1, 3] e que quando administrada nas posologias descritas anteriormente, é bastante segura. Doses de até 10.000 UI por dia por cinco meses não induziram sinais de toxicidade, que se traduzem por hipercalcemia e hipercalciúria [3].
Corroborando com os benefícios da Vitamina D, foram demonstrados no ensaio-clínico publicado no “Journal of Bone and Mineral Research” em que o grupo de Vitamina D 1000 UI resultou numa perda média na DMO no quadril significativamente inferior do que no grupo de 400 UI ou placebo [4].
Não obstante, um outro estudo elaborado na Suíça demonstrou que doses entre 700 UI/d a 1000 UI/d de vitamina D3 podem ser capazes de reduzir quedas em idosos de 19% a 26% [5].
Por fim, uma recente revisão, onde foram incluídas publicações dos anos de 2015 a 2020, relacionou a deficiência de vitamina D e osteoporose em mulheres na pós-menopausa. Segundo os autores a vitamina D, além do potencial efeito terapêutico em pacientes menopausadas, apresenta-se como forma de prevenção da osteoporose e suas consequências [7].
Considerações finais
A Osteoporose é considerada um problema de saúde pública;
Mulheres pós menopausadas constituem um grupo com alta prevalência de deficiência e insuficiência de vitamina D e Osteoporose;
O enfraquecimento muscular decorrente da queda hormonal e aparentemente associada a hipovitaminose D nessa população pode levar ao aumento de risco de quedas e fraturas;
Por sua importância na absorção do cálcio, a vitamina D contribui indiretamente na melhora da DMO, na Osteoporose e suas consequências.
Referências:
[1] A importância da vitamina D na saúde da mulher. São Paulo: Federação das Associações de Ginecologia e Obstetrícia; 2017. 82p. (Série Orientações e Recomendações FEBRASGO; no. 14/ Comissão Nacional Especializada em Osteoporose).
[2] Radominski SC, Pinto-Neto AM, Marinho RM, Costa-Paiva LHS, Pereira F° AS, Urbanetz AA et al . Osteoporose em mulheres na pós-menopausa. Rev. Bras. Reumatol. [Internet]. 2004 Dec [cited 2020 Dec 13] ; 44( 6 ): 426-434. Available from: https://doi.org/10.1590/S0482-50042004000600006.
[3] Maeda SS, Borba VZ, Camargo MB, Silva DM, Borges JL, Bandeira F, et al. Recommendations of the Brazilian Society of Endocrinology and Metabology (SBEM) for the diagnosis and treatment of hypovitaminosis D. Arq Bras Endocrinol Metab. 2014; 58(5):411-33
[4] Macdonald HM, Wood AD, Aucott LS, Black AJ, Fraser WD, Mavroeidi A, Reid DM, Secombes KR, Simpson WG, Thies F. Hip bone loss is attenuated with 1000 IU but not 400 IU daily vitamin D3: a 1-year double-blind RCT in postmenopausal women. J Bone Miner Res. 2013 Oct;28(10):2202-13. doi: 10.1002/jbmr.1959. PMID: 23585346.
[5] Bischoff-Ferrari H A, Dawson-Hughes B, Staehelin H B, Orav J E, Stuck A E, Theiler R et al. Fall prevention with supplemental and active forms of vitamin D: a meta-analysis of randomised controlled trials BMJ 2009; 339 :b3692
[6] Camargo, Marilia Brasilio Rodrigues. "Fatores determinantes do status de vitamina D em pacientes de um ambulatório especializado em osteoporose e sua interferência sobre a absorção intestinal de cálcio." (2013).
[7] de Morais, Letícia Rezende, et al. "A relação entre deficiência de vitamina D e osteoporose em mulheres na pós-menopausa." Brazilian Journal of Health Review 3.4 (2020): 10910-10920.