Rinite Alérgica da Classificação ao Tratamento Combinado
A rinite crônica refere-se à inflamação persistente da mucosa nasal, e pode ser classificada em subtipos como a rinite alérgica (RA), rinite não alérgica (RNA) ou rinite mista (RM), conforme descritos na Figura 1. Dentre seus subtipos, a mais comum globalmente é a RA acometendo entre 400 e 500 milhões de indivíduos no mundo, com variação regional significativa. É caracterizada como um distúrbio inflamatório da mucosa nasal mediado por IgE desencadeado pela exposição a alérgenos inalados, causando sintomas de congestão nasal, coceira no nariz e na garganta, espirros, rinorreia ou secreção pós-nasal com duração superior a 12 semanas. Além de estar frequentemente associada a comorbidades como asma, eczema e sinusite crônica.1
Figura 1. Diagnóstico diferencial de rinite alérgica, rinite não alérgica e rinite mista. NARES, síndrome da rinite não alérgica com eosinofilia. Adaptado de Rackerby N, et al., (2025)1
Sua prevalência vem aumentando em todo o mundo, particularmente em regiões urbanizadas e de alta renda, estimando-se que esse aumento seja devido a mudanças nas exposições ambientais e fatores de estilo de vida. A RA prejudica significativamente a qualidade de vida, afetando o sono, gerando fadiga, comprometimento cognitivo e redução do desempenho em atividades escolares, profissionais e sociais.1,2
Para além dos seus impactos na qualidade de vida, a doença está associada a custos econômicos substanciais, decorrentes de presenteísmo, absenteísmo e maior demanda por cuidados médicos. Estudos recentes identificaram determinantes sociais da saúde incluindo nível de renda, idade da migração de áreas rurais para áreas urbanas ou para países de alta renda, e acesso a cuidados de saúde como fatores importantes associados à prevalência de doenças alérgicas.1
Classificação e sintomas
Tendo como referência a classificação ARIA (Rinite Alérgica e seu Impacto na Asma), que considera tanto a gravidade dos sintomas quanto o impacto na vida diária, a RA foi dividida clinicamente em intermitente ou persistente, e leve ou moderada a grave. A RA leve é caracterizada por sintomas que estão presentes, mas não interferem no sono, nas atividades diárias, no trabalho ou no desempenho escolar. Enquanto a RA moderada a grave é definida pela presença de um ou mais sintomas indicativos de gravidade, como distúrbios do sono, comprometimento das atividades diárias, desempenho profissional ou escolar ou sintomas incômodos.2,3
Tratamentos
Apesar da disponibilidade de diversas opções terapêuticas, como monoterapias com anti-histamínicos orais e intranasais, corticosteroides intranasais e descongestionantes, os corticosteroides intranasais são considerados primeira linha para o tratamento da RA com sintomas moderados a graves por apresentarem maior eficácia no controle dos sintomas. Apesar das diversas opções terapêuticas, elas geralmente são insuficientes para controlar todos os sintomas da doença, e muitos pacientes permanecem com sintomas persistentes da RA. Esse quadro decorre, em grande parte, pela baixa adesão ao tratamento, pelo uso intermitente das medicações e pela prática comum da automedicação, fatores que resultam em controle inadequado da doença e manutenção do impacto negativo sobre a qualidade de vida e a produtividade.4,5
Os últimos guidelines consideram que a combinação de azelastina (anti-histamínico intranasal) + fluticasona (corticosteroide intranasal), apresenta vantagens importantes. Estudos demonstram seu efeito mais rápido (Tabela 1) e maior eficácia quando comparada ao uso isolado de cada fármaco, trazendo benefícios significativos tanto para os sintomas nasais quanto para os oculares. Por esse motivo, a terapia combinada é preferida em casos de rinite alérgica moderada a grave ou em pacientes que não respondem de forma satisfatória à monoterapia.4
Tabela 1: Comparação do tempo de início de ação usando câmaras de exposição ambiental. Adaptado de Bousquet J, et al., (2020)4
A combinação é uma das primeiras opções de tratamento para a rinite alérgica, tanto para pacientes controlados (escala visual analógica < 5) quanto para pacientes não controlados (VAS ≥ 5). Conforme exemplificado na Figura 2 abaixo do guideline ARIA.4
Figura 2: A, Algoritmo de abordagem da rinite alérgica em pacientes adolescentes e adultos não tratados usando VASs (Escala Visual de Sintomas). A proposta considera as etapas do tratamento e a preferência do paciente. Os níveis VAS são mostrados em proporções. Se os sintomas oculares persistirem após o início do tratamento, adicionar tratamento intraocular. B, Algoritmo Step-up em pacientes adolescentes e adultos tratados utilizando VAS. O algoritmo proposto considera o tratamento etapas e a preferência do paciente. Se os sintomas oculares persistirem, adicione tratamento intraocular. Adaptado de Bousquet J, et al., (2020)4
Conclusão
Para os tratamentos da RA, a combinação de azelastina e fluticasona se destaca como a mais eficaz na melhora dos sintomas nasais e oculares, além de favorecer a qualidade de vida dos pacientes. Embora corticosteroides intranasais isolados, como o furoato de fluticasona, também apresentem bons resultados, a associação demonstra superioridade global, sendo recomendada sobretudo em casos moderados a graves de RA.6
Referencias
- Rackerby N, Ahn C, Ball BD, Samant S, Bernstein JS, Bernstein JA. Evolving paradigms of treatment of allergic and nonallergic rhinitis. Ann Allergy Asthma Immunol. 2025 Jul;135(1):15-22.
- Bousquet J, Anto JM, Bachert C, Baiardini I, Bosnic-Anticevich S, Walter Canonica G, Melén E, Palomares O, Scadding GK, Togias A, Toppila-Salmi S. Allergic rhinitis. Nat Rev Dis Primers. 2020 Dec 3;6(1):95.
- Seidman MD, Gurgel RK, Lin SY, Schwartz SR, Baroody FM, Bonner JR, Dawson DE, Dykewicz MS, Hackell JM, Han JK, Ishman SL, Krouse HJ, Malekzadeh S, Mims JW, Omole FS, Reddy WD, Wallace DV, Walsh SA, Warren BE, Wilson MN, Nnacheta LC; Guideline Otolaryngology Development Group. AAO-HNSF. Clinical practice guideline: Allergic rhinitis. Otolaryngol Head Neck Surg. 2015 Feb;152(1 Suppl):S1-43.
- Bousquet J, Schünemann HJ, Togias A, et al. Allergic Rhinitis and Its Impact on Asthma Working Group. Next-generation Allergic Rhinitis and Its Impact on Asthma (ARIA) guidelines for allergic rhinitis based on Grading of Recommendations Assessment, Development and Evaluation (GRADE) and real-world evidence. J Allergy Clin Immunol. 2020 Jan;145(1):70-80.e3.
- Greiner AN, Hellings PW, Rotiroti G, Scadding GK. Allergic rhinitis. Lancet. 2011 Dec 17;378(9809):2112-22. doi: 10.1016/S0140-6736(11)60130-X. Epub 2011 Jul 23. PMID: 21783242.
- Sousa-Pinto B, Vieira RJ, Bognanni A, Gil-Mata S, Ferreira-da-Silva R, Ferreira A, Cardoso-Fernandes A, Ferreira-Cardoso H, Marques-Cruz M, Duarte VH, Castro-Teles J, Campos-Lopes M, Teixeira-Ferreira A, Lourenço-Silva N, Chérrez-Ojeda I, Bedbrook A, Klimek L, Nuñez JJY, Zuberbier T, Fonseca JA, Schünemann HJ, Bousquet J; ARIA 2024 guideline panel. Efficacy and safety of intranasal medications for allergic rhinitis: Network meta-analysis. Allergy. 2025 Jan;80(1):94-105. doi: 10.1111/all.16384. Epub 2024 Nov 16. PMID: 39548801.