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Março Azul: Conscientização sobre o Câncer Colorretal e o Papel do PEG no Preparo Intestinal

O Mês de Março foi marcado pela campanha Março Azul, dedicada à conscientização sobre o câncer colorretal (CCR). Representado pela cor azul-marinho, o movimento busca informar sobre prevenção, diagnóstico precoce e tratamento dessa doença que está entre os três tipos de câncer mais comuns no Brasil. De acordo com estimativas, entre 2023 e 2025, serão diagnosticados aproximadamente 45.630 novos casos de CCR no país, sendo 21.970 em homens e 23.660 em mulheres. A incidência é maior nas regiões Sul e Sudeste. Globalmente, foram cerca de 1,9 milhão de novos casos e 904 mil mortes em 2022, correspondendo a cerca de 10% de todos os diagnósticos e óbitos por câncer. Tornando o CCR a terceira posição em incidência, e a segunda principal causa de morte por câncer, atrás apenas do câncer de pulmão.1,2

Fatores de Risco e Prevenção

O CCR está associado a fatores modificáveis e não modificáveis, sendo os principais associados ao comportamento. Entre os principais fatores de risco estão:

  • Sedentarismo;
  • Obesidade;
  • Consumo regular de álcool e tabaco;
  • Alimentação inadequada (pobre em fibras, frutas, vegetais e carnes magras).

Além disso, outros fatores de risco estão associados a condições genéticas ou hereditárias da doença, ou com pessoas com idade acima dos 50 anos, que têm maior predisposição.1

A prevenção é possível, e apresenta alto potencial envolvendo estratégias primárias e secundárias. A prevenção primária se concentra em modificações no estilo de vida, como uma dieta equilibrada, rica em frutas, vegetais e grãos integrais, combinada com a prática regular de exercícios físicos, redução do consumo de álcool e fumo, e podem reduzir significativamente o risco. A prevenção secundária envolve triagem e vigilância para detectar e remover lesões pré-cancerosas, como pólipos adenomatosos. Suas modalidades de triagem incluem colonoscopia, testes imunoquímicos fecais (FIT), sigmoidoscopia flexível, entre outros, sendo a colonoscopia a mais precisa na detecção e remoção de pólipos.3

Diagnóstico e Importância da Colonoscopia

A colonoscopia é um dos métodos mais precisos e essenciais no diagnóstico e prevenção do CCR. O procedimento permite a visualização direta de todo o cólon e reto, possibilitando a detecção e remoção de pólipos pré-cancerígenos e cânceres em estágio inicial, o que pode reduzir significativamente a incidência e a mortalidade do CCR. Estudos observacionais mostram que o rastreamento adequado pode reduzir a incidência e a mortalidade por CCR, variando entre 68% e 70%.4

A colonoscopia segue como um exame essencial na prevenção e acompanhamento do câncer colorretal. Sua capacidade de identificar e remover lesões pré-cancerosas permite a detecção precoce da doença, reduzindo o risco de desenvolvimento e mortalidade a longo prazo.4

Para enfrentar o aumento dos casos de CCR de início precoce, um grupo de especialistas em saúde preventiva dos Estados Unidos (USPSTF) atualizou suas diretrizes de 2016 para alinhá-las com as da American Cancer Society, com a redução da idade para o início do rastreamento para 45 anos.2 A Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED), Sociedade Brasileira de Coloproctologia, também aderiram a essas recomendações.

Preparo Intestinal para Colonoscopia: Polietilenoglicol (PEG) como Opção

Para que o exame seja eficaz, o intestino precisa estar completamente limpo. O preparo envolve uma dieta líquida e com poucas fibras nos dias anteriores ao procedimento, além do uso de laxativos para garantir a eliminação completa dos resíduos. Um preparo inadequado pode comprometer a visibilidade durante o exame, aumentando o risco de lesões passarem despercebidas.6

Entre as opções disponíveis no preparo intestinal, o polietilenoglicol (PEG) se destaca por sua eficácia e segurança. Ele atua como um laxante osmótico, limpando o intestino através da eliminação do conteúdo intraluminal sem significante troca de fluidos, comum em outras opções.7 A SOBED, ASGE e ESGE recomendam o macrogol como opção segura e eficaz para preparo de cólon. 5,8,9

Em relação ao público pediátrico, o preparo também pode ser realizado com PEG. Em um estudo prospectivo conduzido por Safder S, et. al., (2008)10 crianças agendadas para colonoscopia foram acompanhadas enquanto utilizavam PEG 3350 (1,5 g/kg/dia, até 100 g/d) por 4 dias antes do procedimento. As crianças receberam PEG 3350 (1,5 g/kg por dia, até 100 g/d) durante um período de preparação de 4 dias. Os resultados mostraram que a solução foi bem tolerada, segura e eficaz. Além disso, a frequência e a consistência das evacuações nos últimos dois dias antes do exame foram bons indicadores de um intestino devidamente limpo, com uma taxa de bom preparo entre 91% e 95%.10

No Brasil, a ANVISA recomenda o uso do polietilenoglicol 3350 para o preparo antes da colonoscopia. A dose indicada é de 4,5 g/kg/dia, administrada no dia anterior ao exame. Para facilitar o consumo, recomenda-se dissolver 17 g da substância em 250 mL de líquido e ingerir essa solução a cada 30 minutos, respeitando um limite máximo de 255 g ao longo do dia. O preparo deve ser concluído até 8 horas antes do procedimento.11

Conclusão

O Março Azul serve como um alerta para a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer colorretal. O PEG desempenha um papel fundamental nesse processo, oferecendo um preparo intestinal seguro e eficaz, essencial para a realização de colonoscopias de qualidade. Com informações adequadas e acesso a exames preventivos, é possível reduzir significativamente a incidência e a mortalidade dessa doença.

 

Referências Bibliográficas

  1. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil. Rio de Janeiro: INCA; 2022.
  2. Bray F, Laversanne M, Sung H, Ferlay J, Siegel RL, Soerjomataram I, Jemal A. Global cancer statistics 2022: GLOBOCAN estimates of incidence and mortality worldwide for 36 cancers in 185 countries. CA Cancer J Clin. 2024 May-Jun;74(3):229-263.
  3. Roshandel G, Ghasemi-Kebria F, Malekzadeh R. Colorectal Cancer: Epidemiology, Risk Factors, and Prevention. Cancers (Basel). 2024 Apr 17;16(8):1530.
  4. Shaukat A, Kahi CJ, Burke CA, Rabeneck L, Sauer BG, Rex DK. ACG Clinical Guidelines: Colorectal Cancer Screening 2021. Am J Gastroenterol. 2021 Mar 1;116(3):458-479.
  5. Preparo de cólon para colonoscopia – Diretriz da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva (SOBED). 2023. https://amb.org.br/wp-content/uploads/2024/09/PREPARO-DE-COLON-PARA-COLONOSCOPIA.pdf
  6. Shahini E, Sinagra E, Vitello A, Ranaldo R, Contaldo A, Facciorusso A, Maida M. Factors affecting the quality of bowel preparation for colonoscopy in hard-to-prepare patients: Evidence from the literature. World J Gastroenterol. 2023 Mar 21;29(11):1685-1707.
  7. Jin Z, Lu Y, Zhou Y, Gong B. Systematic review and meta-analysis: sodium picosulfate/magnesium citrate vs. polyethylene glycol for colonoscopy preparation. Eur J Clin Pharmacol. 2016 May;72(5):523-32.
  8. ASGE Standards of Practice Committee; Saltzman JR, Cash BD, Pasha SF, Early DS, Muthusamy VR, Khashab MA, Chathadi KV, Fanelli RD, Chandrasekhara V, Lightdale JR, Fonkalsrud L, Shergill AK, Hwang JH, Decker GA, Jue TL, Sharaf R, Fisher DA, Evans JA, Foley K, Shaukat A, Eloubeidi MA, Faulx AL, Wang A, Acosta RD. Bowel preparation before colonoscopy. Gastrointest Endosc. 2015 Apr;81(4):781-94.
  9. Hassan C, East J, Radaelli F, Spada C, Benamouzig R, Bisschops R, Bretthauer M, Dekker E, Dinis-Ribeiro M, Ferlitsch M, Fuccio L, Awadie H, Gralnek I, Jover R, Kaminski MF, Pellisé M, Triantafyllou K, Vanella G, Mangas-Sanjuan C, Frazzoni L, Van Hooft JE, Dumonceau JM. Bowel preparation for colonoscopy: European Society of Gastrointestinal Endoscopy (ESGE) Guideline - Update 2019. Endoscopy. 2019 Aug;51(8):775-794.
  10. Safder S, Demintieva Y, Rewalt M, Elisur Y. Stool consistency and stool frequency are excellent clinical markers for adequate colon preparation after polyethylene glycol 3350 cleansing protocol: a prospective clinical study in children. Gastrointest Endosc. 2008;68(6):1131-5.

Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA. INSTRUÇÃO NORMATIVA – IN N° 106, DE 11 DE NOVEMBRO DE 2021 (DOU nº 213, de 12 de novembro de 2021). Acesso em 02/04/2025 as 14:12h. Disponível em: http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/5904481/IN_106_2021_COMP.pdf/11fefa7a-02f6-4357-bc41-3f22c3e3e801

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