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Diretriz de prática clínica no uso de Vitamina D

 

 

Recentemente, foi publicada uma nova diretriz clínica para o uso de vitamina D, intitulada "Vitamin D for the Prevention of Disease: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline". Este documento, elaborado pela Endocrine Society, aborda de maneira abrangente o papel crucial da vitamina D na prevenção de doenças. A vitamina D é essencial na regulação do metabolismo do cálcio e do fosfato, fundamentais para a saúde óssea.

 

Um dos pontos destacados na diretriz é a relação entre a deficiência de vitamina D e o aumento do risco de fraturas em idosos. Estudos indicam que a suplementação adequada pode reduzir significativamente esse risco, especialmente em populações vulneráveis, como mulheres na pós-menopausa e idosos com mobilidade reduzida. Além disso, a vitamina D foi associada à redução do risco de outras condições, como diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. No entanto, o artigo ressalta a importância da avaliação individualizada dos níveis de vitamina D, levando em consideração fatores como idade, raça, exposição solar e condições de saúde específicas de cada paciente.

 

Em pacientes saudáveis, a diretriz atual desaconselha a triagem rotineira dos níveis de 25(OH)D na ausência de indicações bem estabelecidas, inclusive em adultos e crianças com obesidade, adultos e crianças com pele escura e durante a gravidez. Esta recomendação representa uma mudança significativa em relação à diretriz de 2011. Vale ressaltar que esta recomendação aplica-se apenas para pacientes saudáveis, ou seja, sem deficiência de vitamina D (e que, consequentemente, não estejam em tratamento com altas dosagens de vitamina D) e que não estejam no grupo de risco para deficiência de vitamina D.

 

Na população geral com 75 anos ou mais, é sugerida a suplementação empírica de vitamina D devido ao seu potencial para reduzir o risco de mortalidade. Nos ensaios clínicos incluídos na revisão sistemática, a dosagem de vitamina D variou de 400 a 3.333 UI diários. Para adultos com pré-diabetes de alto risco, além da modificação do estilo de vida, é recomendada a suplementação empírica de vitamina D para diminuir o risco de progressão para diabetes. Nesses ensaios clínicos, as dosagens de vitamina D variaram de 842 a 7.543 UI diários. A Dose Diária Recomendada é de 600 UI para adultos de 50 a 70 anos e 800 UI para aqueles com mais de 70 anos.

 

Em crianças e adolescentes de 1 a 18 anos, é sugerida a suplementação empírica de vitamina D para prevenir o raquitismo nutricional e potencialmente diminuir o risco de infecções do trato respiratório. Nos ensaios clínicos relacionados às infecções respiratórias em crianças, as dosagens de vitamina D variaram de 300 a 2.000 UI equivalentes diários.

 

Durante a gravidez, é sugerida a suplementação empírica de vitamina D devido aos seus benefícios significativos, incluindo:

 

  • Desenvolvimento ósseo e dentário adequado do
  • Contribuição para um sistema imunológico saudável tanto para a mãe quanto para o bebê.
  • Redução de complicações como pré-eclâmpsia, diabetes gestacional e parto
  •  

Nos ensaios clínicos, as dosagens de vitamina D durante a gravidez variaram de 600 a 5.000 UI equivalentes diários, geralmente fornecidas diariamente ou semanalmente. Doenças que influenciam a absorção de vitamina D incluem:

 

  • Doenças Gastrointestinais:
  • Doença Celíaca
  • Doença de Crohn
  • Cirurgia Bariátrica
  • Distúrbios Hepáticos:
  • Doença Hepática Crônica
  • Distúrbios Renais:
  • Doença Renal Crônica
  • Distúrbios de Absorção Lipídica:
  • Fibrose Cística
  • Síndrome de Má Absorção

Essas condições podem necessitar de suplementação e monitoramento mais rigorosos dos níveis de vitamina D.

 

A participação dos cientistas brasileiros em diretrizes internacionais tem aumentado, como evidenciado pela contribuição da Dra. Marise Lazaretti-Castro. Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina da Fundação do ABC, com mestrado, doutorado e livre-docência pela UNIFESP, além de um doutorado sanduíche na Universidade de Heidelberg, ela atualmente é Professora Adjunta de Endocrinologia na Escola Paulista de Medicina. Chefiando o Setor de Doenças Osteometabólicas e o Serviço de Densitometria Óssea, suas principais linhas de pesquisa incluem a vitamina D e suas repercussões clínicas, bem como o tratamento de doenças ósseas como osteoporose, raquitismos e osteopetroses. Ela desempenha papel importante em várias associações e comissões científicas, contribuindo significativamente para o avanço da pesquisa e educação em endocrinologia e osteometabolismo.

 

Essas diretrizes são essenciais para a promoção da saúde preventiva e no manejo de condições associadas à deficiência de vitamina D, oferecendo um guia valioso para os profissionais de saúde. Contudo, é importante destacar que o estudo ainda não foi adaptado para a realidade brasileira, e não sabemos ao certo como isso vai, ou não, modificar as recomendações atuais.

 

Resumo das Recomendações de Suplementação de Vitamina D

 

População

Recomendações

Dose

Dosagem nível

sérico

Crianças e adolescentes saudáveis (1-18 anos)

Suplementação empírica para prevenir o raquitismo nutricional e diminuir o risco de infecções do

trato respiratório. (evidência de baixa qualidade)

300 a 2000 UI por dia

NÃO

(nível de

evidência não informado)

Adultos saudáveis (<50 anos)

seguir a Dose Diária Recomendada pelo Instituto de Medicina (IOM)

600 UI por dia

NÃO

(evidência de muito baixa

qualidade)

Adultos saudáveis (50-74 anos)

seguir a Dose Diária Recomendada pelo Instituto de Medicina (IOM)

600 a 800UI por dia

NÃO

(evidência de muito baixa qualidade)

Adultos saudáveis (≥75 anos)

Suplementação empírica

recomendada devido ao potencial

de redução do risco de mortalidade.

400 a 3000 UI por dia

NÃO

(evidência de muito baixa qualidade)

Gravidez

Suplementação empírica

recomendada para reduzir o risco de pré-eclâmpsia, mortalidade

intrauterina, parto prematuro, PIG e mortalidade neonatal.

600 a 5000 UI por dia

NÃO

(evidência de muito baixa qualidade)

Pré-diabetes

Suplementação empírica

recomendada para reduzir o risco de progressão para diabetes.

800 a 7000 UI por dia

NÃO

(nível de evidência não informado)

 

Referência:

Demay MB, Pittas AG, Bikle DD, Diab DL, Kiely ME, Lazaretti-Castro M, Lips P, Mitchell DM, Murad MH, Powers S, Rao SD, Scragg R, Tayek JA, Valent AM, Walsh JME, McCartney CR. Vitamin D for the Prevention of Disease: An Endocrine Society Clinical Practice Guideline. J Clin Endocrinol Metab. 2024 Jun 3:dgae290.

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