Zinco e Imunidade

Dr. Daniel Ayabe Ninomiya

CRM-SP 150.626 – Médico infectologista do Hospital Estadual Mário Covas, Santo André, SP. 

O zinco é um micronutriente essencial ao metabolismo, em especial na sinalização intercelular, modulando a resposta imune, a síntese proteica e a expressão gênica em geral (síntese de DNA e transcrição de RNA), já que atua como uma metaloenzima.[1]

Estima-se que a prevalência global de deficiência de zinco seja entre 17% e 20%.[1]  É mais comum a deficiência leve ou moderada, sendo rara a grave, a qual se manifesta como baixa estatura, hipogonadismo, anorexia, disfunção imune e cognitiva particularmente no contexto de desnutrição infantil.

Esse déficit se dá em grande parte devido à baixa ingestão de carne vermelha (a mais rica fonte alimentar comum de zinco) e à alta ingestão de cereais integrais e leguminosas da alimentação básica, ricas em fitato e outros ligantes, que dificultam a absorção do próprio zinco.[2] 

Em países desenvolvidos, a deficiência de zinco ocorre com maior frequência em idosos, veganos e vegetarianos e indivíduos com doenças crônicas, como cirrose hepática ou doença inflamatória intestinal.[1]

É importante ressaltar que essa deficiência pode resultar em comprometimento do sistema imune, expresso sob a forma de atrofia tímica, linfopenia e atividade linfocitária errática em modelos animais. Esses dados ressaltam a importância do zinco, por exemplo, em países em desenvolvimento, onde o risco de infecção é potencialmente maior em populações sem acesso a saneamento e a serviços públicos de saúde adequados.[1]

De acordo com o relatório de 2002 da Organização Mundial da Saúde (OMS), a falta de zinco ocupa lugar de destaque entre as deficiências de micronutrientes comumente observadas em populações desnutridas de países em desenvolvimento, junto com iodo, ferro e vitamina A. Está associada a maior suscetibilidade a processos infecciosos, indicando sua relação com a imunidade do hospedeiro. Além disso, está associada em estudos preliminares a síntese de citocinas pró-inflamatórias que podem ter papel importante em doenças inflamatórias crônicas, em especial as cardiovasculares e as metabólicas.[3]

“Estima-se que a prevalência global de deficiência de zinco seja entre 17% e 20%.[1]

A homeostase do zinco tem um papel importante na saúde humana. Embora esteja ligado a cerca de 10% do proteoma humano, esse micronutriente pode estimular uma variedade de respostas imunes inatas e adquiridas (celular e humoral), em especial contra alguns vírus respiratórios.[1]

O uso do zinco tem potencial para contribuir com o clareamento viral* de algumas infecções e pode ser avaliado em estudos posteriores sob duas perspectivas: 1. Melhora da resposta antiviral e da imunidade como um todo em indivíduos com deficiência;

2. Inibição da replicação viral ou supressão de sintomas relacionados à infecção.[1]

“O uso do zinco tem potencial para contribuir com o clareamento viral* de algumas infecções e pode ser avaliado em estudos posteriores sob duas perspectivas:

1) melhora da resposta antiviral e da imunidade como um todo em indivíduos com deficiência e
2) inibição da replicação viral ou supressão de sintomas relacionados à infecção.[1]

* quando o vírus não é mais detectado por exames laboratoriais.

O zinco atua não apenas como cofator na imunomodulação, mas também tem potencial papel como agente antioxidante e anti-inflamatório. Um exemplo disso é o resfriado comum. Diversos agentes, como rinovírus, coronavírus, adenovírus, vírus sincicial respiratório e vírus parainfluenza, estão associados a essa condição clínica das mais prevalentes no mundo. Provavelmente, esses vírus aumentam o estresse oxidativo, o que ativa macrófagos e monócitos e resulta em aumento da produção de citocinas inflamatórias. Ensaio clínico com indivíduos que receberam zinco demonstraram redução dessa ativação, com consequente diminuição do estresse oxidativo. A administração de zinco em doses adequadas 24 horas após o início dos sintomas associou-se à redução da duração e da gravidade dos sintomas do resfriado comum.[4] Convém ressaltar também o papel imunomodulador do zinco na infecção pelo vírus influenza A H1N1. Seu uso associado a outros micronutrientes pode ter um papel preventivo importante nessa doença.[2] 

A presença de zinco na dieta afeta vários aspectos da imunidade adaptativa do tipo celular, o que inclui o aumento da expressão de interleucina-2 (IL-2) e de interferon-gama (IFN-γ). IL-2 estimula células T natural killer e citolíticas, que ajudam a eliminar vírus e bactérias. Essas duas citocinas também ativam macrófagos, que fagocitam esses agentes. O zinco também suprime o ICAM-1 (molécula de adesão intercelular 1), que atua como receptor de partículas virais em células endoteliais, macrófagos e linfócitos.[2] A suplementação de zinco, neste contexto, tem efeito positivo, reduzindo em 18% a incidência de doença diarreica aguda, em 15% a sua duração e em 41% a incidência de pneumonia.[5]

A ingestão diária de zinco recomendada pela OMS para crianças menores de 1 ano e que possuem uma dieta com baixa biodisponibilidade de zinco é de 5 mg/dia; para crianças maiores de 1 ano, são recomendados 10 mg/dia. Estudos mostraram que a suplementação das crianças se associou à diminuição de mortalidade infantil em mais de 50%. O zinco tem um papel na prevenção de doenças infecciosas nas crianças, assim, programas para aumentar a ingestão de zinco entre populações deficientes devem ser avaliados para implementação.[5]

Nos adultos, a ingestão diária recomendada nos Estados Unidos é de 11 mg/dia para homens e 8 mg/dia para mulheres. Já as recomendações europeia e da OMS mostram valores mais baixos, entre 9,4 e 10 mg para homens e 6,5 e 7,1 mg para mulheres. No entanto, até o momento não existe uma recomendação específica para idosos.[6] 

IDOSOS

Como não ocorre armazenamento estável de zinco no corpo, é necessária a ingestão diária e adequada de zinco para obter uma concentração estável, de modo que a resposta imune possa permanecer adequada. Como citado anteriormente, sua deficiência ocorre frequentemente devido à desnutrição, especialmente em idosos.[6]

Há correlação entre algumas doenças e falta de zinco em idosos. A deficiência leve associa-se à desregulação da imunidade adaptativa e resulta em aumento da produção de citocinas pró-inflamatórias, contribuindo para a inflamação relacionada a senescência, na qual há um desbalanço do sistema Th1/Th2 em favor da resposta Th1. Estudos sobre suplementação com zinco por via oral mostraram ativação do sistema imunológico em favor da resposta Th2, de caráter anti-inflamatório, o que pode determinar um efeito positivo na morbimortalidade em idosos.[6] (Figura 1)

Estudo randomizado, duplo-cego e controlado com 50 idosos saudáveis de ambos os sexos, com idades entre 55 e 87 anos, foram divididos em dois grupos. O grupo suplementado recebeu 45 mg de zinco elementar por dia por via oral por 12 meses. O outro grupo recebeu placebo. O objetivo primário foi determinar a incidência total de infecções em idosos saudáveis e o secundário foi determinar o efeito do zinco nas citocinas e nos marcadores de estresse oxidativo.[7]

Em comparação com um grupo de 31 adultos mais jovens, com média de idade de 32 anos, no início do estudo os indivíduos mais velhos apresentaram zinco plasmático significativamente menor, maior geração de marcadores de estresse oxidativo plasmático e moléculas de adesão celular endotelial. A geração de fator de necrose tumoral alfa (TNFα) e outros marcadores de estresse oxidativo foi significativamente menor no grupo suplementado com zinco do que no grupo placebo. A incidência de infecções foi significativamente menor no grupo suplementado com zinco.[8] (Figura 2)

Idosos com baixas concentrações séricas de zinco podem se beneficiar da suplementação de zinco também nos casos de pneumonia. Foi observado um potencial para reduzir o número de episódios, a duração, a quantidade de novas prescrições de antibióticos, bem como o número de dias de uso desses medicamentos contra pneumonia. A suplementação para manter as concentrações séricas de zinco em níveis de normalidade em idosos pode ajudar a reduzir a incidência de pneumonia e morbidades associadas.[8]

Em relação à pneumonia bacteriana como complicação da infecção por influenza, um estudo observacional com 420 pacientes vivendo em casas de repouso e que receberam diariamente 50% da dose diária recomendada de vitaminas e minerais mostrou que os participantes com concentrações plasmáticas de zinco acima de 70 μg/dL apresentavam risco significativamente menor de pneumonia com necessidade de tratamento antibiótico do que os participantes com níveis plasmáticos de zinco inferiores a 70 μg/dL.[2]

Uso do zinco de forma suplementar, provavelmente, é mais eficaz quando administrado com outros micronutrientes. Deficiências desses oligoelementos raramente ocorrem isoladas, já que atuam em conjunto. Inclusive, a fortificação de alimentos em geral seria uma forma efetiva para a prevenção de deficiência desses micronutrientes, dentre eles o zinco.[2]

 

REFERÊNCIAS

1. Read SA, Obeid S, Ahlenstiel C, Ahlenstiel G. The Role of Zinc in Antiviral Immunity. Adv Nutr. 2019 Jul 1;10(4):696-710.

2. Sandstead HH, Prasad AS. Zinc intake and resistance to H1N1

influenza. Am J Public Health. 2010 Jun;100(6):970-1.

3. Bonaventura P, Benedetti G, Albarède F, Miossec P. Zinc and its role in immunity and inflammation. Autoimmun Rev. 2015 Apr;14(4):277-85.

4. Prasad AS. Discovery of human zinc deficiency: its impact on human health and disease. Adv Nutr. 2013 Mar 1;4(2):176-90.

5. Fischer Walker C, Black RE. Zinc and the risk for infectious disease. Annu Rev Nutr. 2004;24:255-75.

6. Maywald M, Rink L. Zinc homeostasis and immunosenescence. J Trace Elem Med Biol. 2015 Jan;29:24-30.

7. Prasad AS, Beck FW, Bao B, Fitzgerald JT, Snell DC, Steinberg JD, et al. Zinc supplementation decreases incidence of infections in the elderly: effect of zinc on generation of cytokines and oxidative stress. Am J Clin Nutr. 2007 Mar;85(3):837-44.

8. Meydani SN,Barnett JB, Dallal GE, Fine BC, Jacques PF, Leka LS, et al. Serum zinc and pneumonia in nursing home elderly. Am J Clin Nutr. 2007 Oct;86(4):1167-73.

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