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TDAH durante a gravidez e pós-parto: descubra as últimas evidências de tratamento

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é um distúrbio neuropsiquiátrico caracterizado pela diminuição da atenção, aumento da impulsividade e hiperatividade, frequentemente associado a déficits de vigilância e funcionamento executivo¹. No Brasil, a prevalência de TDAH é maior em crianças, porém aproximadamente 5,2% dos indivíduos entre 18 e 44 anos apresentam sintomas desse distúrbio. Embora o TDAH seja comumente diagnosticado na infância, não é incomum que o diagnóstico seja feito mais tarde. Evidências científicas indicam sua persistência na idade adulta2.

 

O tratamento convencional para o TDAH combina geralmente medicamentos com intervenções não medicamentosas, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC). Esta abordagem é usualmente recomendada como primeira escolha para adultos, com o objetivo de melhorar as funções executivas3. Dentre os medicamentos, há destaque para os estimulantes, principalmente à base de anfetaminas (anfetamina, dexanfetamina, lisdexanfetamina) e o metilfenidato, devido ao seu rápido efeito clínico. Também estão disponíveis opções não estimulantes, incluindo a bupropiona, atomoxetina, clonidina, e os antidepressivos, que podem levar até quatro semanas para alcançar efeito completo4. A escolha terapêutica adequada está diretamente relacionada ao diagnóstico correto da patologia, bem como do seu subtipo, uma vez que a individualização do tratamento é fundamental nestes pacientes. Estudos indicam que os medicamentos estimulantes tendem a oferecer maiores benefícios a curto prazo em comparação com os não estimulantes. Em casos de mulheres na gestação, é aconselhável considerar alternativas de tratamento3.

 

Durante os anos reprodutivos, muitas mulheres com TDAH enfrentam desafios no manejo dos sintomas durante a gravidez e pós-parto, requerendo suporte clínico adicional. Além disso, profissionais da saúde muitas vezes enfrentam incertezas sobre o manejo do TDAH durante o período perinatal, especialmente quanto à segurança dos medicamentos para o feto. Uma revisão realizada por Scoten O, et al., (2024)4 teve como objetivo resumir a literatura atual sobre o TDAH na gravidez e no período pós-parto, oferecendo orientação clínica sobre o diagnóstico e o tratamento desta condição no período perinatal. Vale ressaltar que foram avaliados os riscos e a eficácia de possíveis medicações para este período, conforme a literatura.

 

No período perinatal, é crucial equilibrar os riscos dos medicamentos para TDAH na gravidez com os riscos de não tratar ou tratar inadequadamente a condição. A interrupção do tratamento pode piorar a saúde mental da gestante e afetar o desenvolvimento fetal, aumentando o risco de aborto e parto prematuro. A maioria dos estudos sobre a teratogenicidade dos medicamentos para TDAH, que se tem centrado principalmente na utilização de estimulantes, não encontrou aumento significativo de malformações congênitas, embora alguns sugeriram um leve aumento (risco pequeno: risco absoluto de 1,7% em relação a um risco basal de 1,07%) de defeitos cardíacos com o metilfenidato. Acredita-se que medicamentos como metilfenidato, dexanfetamina e atomoxetina atravessem a placenta em humanos, expondo o feto. Atomoxetina e bupropiona não estão associadas a malformações congênitas importantes, mesmo que os dados sejam limitados. Um estudo recente, amplo e bem controlado, não demonstrou riscos aumentados no uso de metilfenidato, anfetamina, dexanfetamina, lisdexanfetamina, modafinil, atomoxetina ou clonidina durante a gravidez em termos de resultados a longo prazo 4.

 

Embora alguns estudos sugiram riscos aumentados de complicações na gravidez e no parto, como pré-eclâmpsia e nascimento prematuro, as evidências são limitadas e muitas vezes derivam de estudos pequenos ou do uso ilícito de estimulantes. Em geral, as evidências disponíveis são tranquilizadoras, especialmente para estimulantes, mas mais pesquisas são necessárias para agentes não estimulantes e para avaliar os resultados a longo prazo da farmacoterapia do TDAH na gravidez 4.

 

  1. Jernelöv S, Larsson Y, Llenas M, Nasri B, Kaldo V. Effects and clinical feasibility of a behavioral treatment for sleep problems in adult attention deficit hyperactivity disorder (ADHD): a pragmatic within-group pilot evaluation. BMC Psychiatry. 2019 Jul 24;19(1):226.
  2. Ministério da Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), Brasília – DF: Ministério da Saúde; 2022.
  3. Attention deficit hyperactivity disorder in adults: Treatment overview. UpToDate. Available from: https://www.uptodate.com/contents/attention-deficit-hyperactivity-disorder-in-adults-treatment-overview?search=Attention%20deficit%20hyperactivity%20disorder%20in%20adults%3A%20Treatment%20overview.&source=search_result&selectedTitle=1%7E150&usage_type=default&display_rank=1#H2735724759. Accessed July 05, 2024.
  4. Scoten O, Tabi K, Paquette V, Carrion P, Ryan D, Radonjic NV, Whitham EA, Hippman C. Attention-deficit/hyperactivity disorder in pregnancy and the postpartum period. Am J Obstet Gynecol. 2024 Mar 1;1.

 

 

 

 

 

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