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Combinação de GLP-1RA e Tiazolidinediona: Impactos na Mortalidade e Eventos Cardiovasculares no Diabetes Tipo 2

O diabetes tipo 2 é uma condição crônica e complexa que requer manejo multifatorial para prevenir ou retardar complicações e preservar a qualidade de vida. O tratamento deve abranger o controle glicêmico, peso corporal, fatores de risco cardiovascular e das comorbidades associadas. Essa abordagem envolve tanto intervenções comportamentais, quanto terapias farmacológicas individualizadas, levando em consideração os determinantes sociais da saúde e as preferências do paciente.1

Recentemente o número crescente de opções terapêuticas para o diabetes tipo 2, incluindo agonistas do receptor de GLP-1, ampliou as possibilidades de manejo e trouxeram possíveis benefícios clínicos relevantes, especialmente na redução do risco cardiovascular e na progressão da doença renal crônica. Esses agentes, inicialmente introduzidos como hipoglicemiantes, passaram a ter papel fundamental também na proteção de órgãos, refletindo o avanço de uma abordagem holística e personalizada no tratamento do diabetes tipo 2.1

Com as diversas combinações terapêuticas exploradas para a patologia, estudos prévios sugerem que a associação de GLP-1RA com tiazolidinedionas pode trazer benefícios clínicos importantes.

Nesse contexto Li JX, et al., (2025)2 conduziram um estudo de coorte retrospectivo abrangente para avaliar os riscos associados a complicações e mortalidade do diabetes entre pacientes com diabetes tipo 2 tratados com GLP-1RA, tiazolidinediona ou uma combinação de ambos, fornecendo evidências relevantes para a prática clínica e potencialmente influenciando decisões terapêuticas futuras.2

Através do Banco Nacional de Seguros de Saúde de Taiwan, foram incluídos 220.822 pacientes com diabetes tipo 2 com mais de 20 anos de idade, destes 110.411 pacientes em uso de GLP-1RA ou tiazolidinediona (idade média [DP], 58,3 [11,9] anos; 45,5% mulheres; 47.526 usuários de GLP-1RA, 32.203 usuários de tiazolidinediona e 30.682 usuários de GLP-1RA mais tiazolidinediona) e 110.411 pacientes que não usaram GLP-1RAs ou tiazolidinedionas.2

Os pacientes que receberam GLP-1RA mais tiazolidinediona apresentaram redução importante no risco de mortalidade por todas as causas (AHR 0,20; CI, 0.18-0.23; P < .001), eventos adversos cardiovasculares adversos (AHR 0,85; 95%CI, 0.82-0.89; P < .001) e mortalidade cardiovascular (AHR 0,20; 95%CI, 0.18-0.23; P < .001) em relação aos pacientes que não utilizaram GLP-1RA ou tiazolidinediona. No entanto, foi observado um maior risco de hipoglicemia em pacientes que receberam a terapia combinada (AHR, 1.61; 95%CI, 1.43-1.82; P < .001) e aqueles recebendo terapia com tiazolinediona (AHR, 1.69; 95%CI, 1.51-1.90; P < .001) comparada ao não uso. Esse efeito foi atenuado com uso prolongado. Pacientes em monoterapia com tiazolidinediona apresentaram risco aumentado de mortalidade por todas as causas (AHR, 1.29; 95%CI, 1.24-1.34; P < .001) e mortalidade cardiovascular (AHR, 1.28; 95%CI, 1.13-1.45; P < .001) em comparação com os pacientes em monoterapia com GLP-1RA. As análises de sensibilidade confirmaram a robustez desses achados.2

Figura 1: Incidência cumulativa de resultados primários entre diferentes grupos. *GLP-1 indica agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1; MACE, evento cardiovascular adverso grave. Fonte: Li JX, et al., (2025).

 

Na Figura 2 podemos observar que o uso prolongado da combinação de GLP-1RA e tiazolidinediona reduz progressivamente o risco de mortalidade e eventos cardiovasculares. O hazard ratio ajustado (AHR) para mortalidade por todas as causas caiu de 0,45 (IC95%, 0,42–0,48) com menos de 360 dias de uso para 0,09 (IC95%, 0,08–0,10) após mais de 900 dias. A mortalidade cardiovascular reduziu de 0,44 (IC95%, 0,36–0,55) para 0,11 (IC95%, 0,08–0,14), e os MACEs de 1,23 (IC95%, 1,14–1,32) para 0,67 (IC95%, 0,63–0,71). O risco de hipoglicemia foi mais alto no início (AHR 2,26; IC95%, 1,86–2,75) e diminuiu com o tempo (AHR 1,17; IC95%, 0,99–1,39). Esses resultados indicam que o uso prolongado da combinação está associado a maiores benefícios cardiovasculares e menor risco de hipoglicemia ao longo do tempo.2

Figura 2: Resultados em estratos de dias cumulativos de terapia combinada.2 *O risco dos resultados de interesse do agonista do receptor do peptídeo semelhante ao glucagon 1 e do uso de tiazolidinedionas foi medido em menos de 360, 360 a 900 e mais de 900 dias cumulativos. AHR indica razão de risco ajustada; MACEs, eventos cardiovasculares adversos graves. Fonte: Li JX, et al., (2025).

Em conclusão, a combinação de GLP-1RA com tiazolidinediona, como a pioglitazona, mostrou benefícios substanciais na redução de mortalidade e complicações cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2. No contexto de eventos cardiovasculares adversos graves, as vantagens do tratamento combinado não foram evidentes quando comparado à monoterapia com GLP-1RA. Esses resultados sugerem que análogos de GLP-1 podem atenuar os efeitos adversos cardiovasculares da tiazolidinediona, embora estudos clínicos adicionais são essenciais para determinar os benefícios cardiovasculares de longo prazo dessa abordagem de terapia combinada.2

Referências Bibliográficas

  1. Davies MJ, Aroda VR, Collins BS, Gabbay RA, Green J, Maruthur NM, Rosas SE, Del Prato S, Mathieu C, Mingrone G, Rossing P, Tankova T, Tsapas A, Buse JB. Management of Hyperglycemia in Type 2 Diabetes, 2022. A Consensus Report by the American Diabetes Association (ADA) and the European Association for the Study of Diabetes (EASD). Diabetes Care. 2022 Nov 1;45(11):2753-2786.
  2. Li JX, Hsu TJ, Lin HJ, Hsu SB, Lu CR, Chung WH, Liang SJ, Tsai FJ, Chang KC. Combination of Glucagon-Like Peptide 1 Receptor Agonist and Thiazolidinedione for Mortality and Cardiovascular Outcomes in Patients With Type 2 Diabetes. JAMA Netw Open. 2025 Mar 3;8(3):e252577.

 

 

 

 

 

 

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