Início Myralis Class Artigos a importância do sono e os impactos de um sono ruim na vida pessoal e profissional

A Importância do Sono e os Impactos de um Sono Ruim na Vida Pessoal e Profissional

O sono desempenha um papel fundamental na saúde física, mental e emocional. Durante o sono, o organismo realiza processos essenciais, como a consolidação da memória, regulação hormonal e recuperação celular. No entanto, a qualidade do sono tem sido frequentemente negligenciada, impactando negativamente a vida pessoal e profissional.1

Impactos de um Sono Ruim

A privação crônica de sono ou um sono de má qualidade pode desencadear uma série de problemas. No âmbito pessoal, pode levar a alterações de humor, aumento do estresse e maior predisposição a doenças cardiovasculares, obesidade e diabetes. No contexto profissional, a falta de sono está associada à queda na produtividade, dificuldades de concentração, comprometimento da tomada de decisão e maior propensão a erros e acidentes de trabalho.1-3

Prevalência da Insônia Aguda e Crônica

A prevalência de insônia aguda e crônica varia significativamente entre diferentes populações e contextos. A insônia aguda, caracterizada pela dificuldade para dormir por pelo menos três noites por semana durante um período de duas a doze semanas, apresenta uma taxa de incidência anual de cerca de 27% em indivíduos que inicialmente dormem bem. A boa notícia é que a maioria dos casos de insônia aguda tende a se resolver espontaneamente, com aproximadamente 72,4% dos indivíduos recuperando um padrão de sono saudável.4

Em contraste, a insônia crônica, que persiste por pelo menos três meses com uma frequência mínima de três vezes por semana, tem uma prevalência estimada de 5% a 10% em países industrializados. Essa taxa pode ser ainda maior em populações com condições médicas ou psiquiátricas, bem como em grupos de idade mais avançada. Estudos epidemiológicos demonstram que a insônia crônica está associada a uma série de consequências adversas, como o aumento do risco de transtornos psiquiátricos, incluindo depressão e ansiedade, além de doenças cardiovasculares.5

Tratamento subestimado da Insônia

Apesar de ser uma condição comum, a insônia frequentemente não é reconhecida ou tratada adequadamente na atenção primária. O tratamento eficaz da insônia pode melhorar significativamente os resultados de saúde, reduzindo o risco de distúrbios cardiovasculares e problemas de saúde mental. No entanto, observa-se uma tendência de subtratamento, especialmente no que se refere às terapias não farmacológicas, como a terapia cognitivo-comportamental para insônia (TCC-I), que é recomendada como tratamento de primeira linha. A TCC-I tem mostrado efeitos duradouros após a descontinuação do tratamento, ao contrário das intervenções farmacológicas, que, embora eficazes a curto prazo, não mantêm a mesma eficácia a longo prazo.6-8

Além disso, há uma discrepância entre a opinião médica e a evidência científica disponível sobre a eficácia dos tratamentos para insônia, o que pode contribuir para o subtratamento. Muitos médicos expressam preocupações quanto à segurança e à dependência de medicamentos, como benzodiazepínicos e agonistas de receptores de benzodiazepínicos, reconhecendo a necessidade de tratamentos não farmacológicos adicionais, mas enfrentam barreiras para acessá-los.5,9

Estudos também sugerem que a percepção do sono pode influenciar a resposta ao tratamento. Por exemplo, pacientes com insônia crônica que subestimam a duração do sono tendem a ter uma resposta melhor à TCC-I, o que indica que a percepção subjetiva do sono pode moderar os efeitos do tratamento. Este fato destaca a importância de abordar tanto os aspectos objetivos quanto subjetivos da insônia.10

Impacto das Telas no Sono

O impacto do uso de telas no sono tem sido amplamente estudado, especialmente entre adolescentes e jovens adultos. A literatura médica mostra que o uso de dispositivos eletrônicos, particularmente antes de dormir, está associado a efeitos negativos no sono, como redução na duração do sono e piora na qualidade do sono.11-14

Estudos indicam que o uso de dispositivos como smartphones e computadores pode atrasar o início do sono e reduzir sua duração total. Isso ocorre devido a diversos fatores, como o deslocamento de tempo (onde o tempo gasto em telas substitui o tempo dedicado ao sono), o estímulo psicológico causado pelo conteúdo das mídias e os efeitos da luz emitida pelos dispositivos sobre o ritmo circadiano e a fisiologia do sono.15-17

Além disso, o uso interativo de telas, como jogos eletrônicos e comunicação por redes sociais, tem um impacto ainda mais negativo no sono em comparação ao uso passivo, como assistir televisão. O uso de telas para atividades interativas antes de dormir está associado a atrasos no início do sono e à redução na sua duração.15,16,18

Intervenções que visam reduzir o tempo de tela antes de dormir, como a remoção de dispositivos eletrônicos do ambiente de sono, têm mostrado benefícios modestos na eficiência do sono e na redução de despertares noturnos. Assim, as recomendações de higiene do sono que limitam o uso de telas antes de dormir podem ser eficazes na melhoria da saúde do sono, especialmente em adolescentes e jovens adultos.15,19

Conclusão

A qualidade do sono é um pilar essencial para a saúde e o bem-estar. Compreender seus impactos na vida pessoal e profissional, reconhecer a prevalência dos distúrbios do sono e buscar tratamentos adequados são passos fundamentais para melhorar a qualidade de vida. Além disso, a adoção de hábitos saudáveis, como reduzir a exposição a telas antes de dormir, pode contribuir significativamente para noites de sono mais restauradoras.

 

 

Referências Bibliográficas

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