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Palmitoiletalonamida (PEA): mecanismo de ação, indicações para dor e endometriose

O que é endometriose?

A endometriose é uma condição inflamatória crônica definida pela presença de glândulas e estroma fora da cavidade uterina. Mais comumente, esses crescimentos estão dentro da pelve, como nos ovários, nas trompas de Falópio, na superfície externa do útero ou na bexiga.

A intensidade e tipo da dor endometriótica é bastante diversa, e inclui dismenorreia, dispareunia, dor pélvica crônica e disquezia conforme o local da
lesão. Além da dor, a endometriose pode causar outros sintomas, como problemas relacionados ao intestino e à bexiga, menstruações abundantes, desconforto sexual e infertilidade.

A endometriose e inflamação

A endometriose está sendo cada vez mais reconhecida como uma condição inflamatória, pois lesões ectópicas secretam moléculas quimiotáticas que recrutam células imunes para o líquido peritoneal.

Citocinas pró-inflamatórias (como interleucina 1, 8, 33, fator nuclear kappa B (NF-κB) e fator de necrose tumoral alfa (TNFα) foram amplamente relatadas em várias etapas da progressão da endometriose.

Moléculas de natureza lipídica com ações anti-inflamatórias

Inúmeras são as moléculas de natureza lipídica encontradas em nossa alimentação que possuem funções anti-inflamatórias, analgésicas ou antioxidante.

Uma classe de moléculas encontradas em dietas com ações anti-inflamatórias são as N-aciletanolaminas (NAEs). Entre todas, uma é particularmente conhecida por sua capacidade de neutralizar a cascata inflamatória, a palmitoiletanolamida (PEA).

As ações da PEA ocorrem em vários alvos moleculares, e enquanto modulam múltiplos mediadores inflamatórios, fornecem benefícios terapêuticos em diversas aplicações, incluindo modulação da dor, imunidade, saúde cerebral, alergia, saúde das articulações, sono, entre outras.

O que é a Palmitoiletanolamida (PEA)?

A PEA é um ingrediente lipídico de ocorrência natural contido em alimentos/suplementos dietéticos e um mediador lipídico endógeno pertencente à classe das etanolamidas de ácidos graxos. A PEA exógena é bem tolerada e isenta de efeitos colaterais em animais e humanos.

Sintetizada sob demanda dentro da bicamada lipídica, a PEA é produzida como uma resposta protetora pró-homeostática à lesão celular, e é geralmente regulada positivamente em estados de doença.

A PEA é frequentemente usada no tratamento de doenças inflamatórias agudas e patologias crônicas, isoladamente ou em associação com outras moléculas com propriedades antioxidantes, ou analgésicas.

Lipídios anti-inflamatórios sintéticos

Apesar dos anti-inflamatórios sintéticos serem amplamente usados no manejo de da inflamação crônica, muitos deles são nocivos para o uso crônico. Neste sentido, suplementos endógenos e/ou derivados de alimentos oferecem uma alternativa mais segura.

Licenciados desde a década de 1950, vários produtos contendo PEA já foram licenciados para uso como nutracêuticos, suplementos alimentares ou alimentos para fins médicos em diferentes países.

A PEA é um importante mediador anti-inflamatório

Os mediadores lipídicos, sendo a PEA um exemplo, podem modular a dor e a inflamação através da ativação dos receptores de ativação dos proliferadores de peroxissomos (PPARs) e essa ativação pode regular fatores de transcrição que controlam a expressão de citocinas distintas.

Vale lembrar que a PEA é um endocanabinoide (sem a presença de THC, ou seja, sem efeitos alucinógenos), que também possui ação direta em receptores canabinoides (GPR55 e GPR119, recentemente descritos) e ação indireta no sistema endocanabinoide (receptores CB1 e CB2) e sistema vaniloide. Desta forma, tais mecanismos conferem ação anti-inflamatória e analgésica da molécula.

Durante as condições inflamatórias crônicas os níveis de PEA encontram-se mais baixos, e assim, a administração exógena de PEA oferece uma alternativa mais fisiológica para repor os níveis endógenos, restaurando seus efeitos protetores, anti-inflamatórios e analgésicos.

Efeitos da PEA na dor menstrual

A diminuição da progesterona imediatamente antes da menstruação leva à liberação de ácidos graxos, incluindo ácido araquidônico de células uterinas e a produção de mediadores como a prostaglandinas específicas, que levam à contração e vasoconstrição, causando isquemia local e dor.

O fluxo da menstruação de mulheres com dismenorreia tem níveis mais elevados dessas prostaglandinas do que o de mulheres com menstruação normal, com uma correlação direta entre a gravidade dos sintomas da dismenorreia e níveis de prostaglandinas.

Em um ensaio clínico, publicado na revista European Journal of Obstetrics & Gynecology and Reproductive Biology, 47 mulheres jovens com dismenorreia primária, receberam a administração combinada de PEA (400 mg) associada com transpolidatina (40 mg) por 90 dias e utilizando uma escala, avaliaram a redução da dor endometriótica.

Os resultados demonstraram que a intensidade da dor endometriótica diminuiu significativamente naquelas mulheres que receberam o tratamento de PEA + transpolidatina em relação ao grupo placebo, e a eficácia do tratamento foi significativa após 30 dias. Neste artigo, os autores também verificaram que após o tratamento, a intensidade da dor diminuiu mais rapidamente naquelas mulheres com dismenorreia decorrente da endometriose ovariana.

Ensaios clínicos em andamento ainda investigam os feitos protetores da PEA endógena e os diversos benefícios da PEA exógena em uma série de distúrbios crônicos, assim como os benefícios da PEA em populações adultas saudáveis.

Os resultados destes estudos fornecerão mais respostas sobre como esse tratamento adjuvante com a PEA pode contribuir para o manejo eficaz da dor pélvica em mulheres com endometriose.

 

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Comentários
Luiz Antonio
20/02/2023 12:16
Artigo pertinente e muito promissor.