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Inositol e Coenzima Q10: opções nutracêuticas no tratamento da SOP

 

 

A Síndrome do Ovário Policístico (SOP) é uma condição endócrina que afeta um número significativo de mulheres em todo o mundo. De acordo com dados epidemiológicos, a SOP é uma das condições ginecológicas mais comuns em mulheres em idade reprodutiva, afetando aproximadamente 6% a 10% da população feminina [1]. 

A SOP é caracterizada por um distúrbio hormonal que afeta os ovários e pode causar uma série de sintomas e complicações, incluindo irregularidades menstruais, excesso de pelos, acne, ganho de peso e pode afetar a fertilidade [2].  

Embora os sintomas da SOP possam variar, a sua influência na saúde feminina não deve ser subestimada. Como a causa primária da SOP é geralmente desconhecida, o tratamento é direcionado aos sintomas clínicos apresentados, o que acaba limitando as opções terapêuticas e diminuindo a efetividade [2]. 

 

Etiologia e fisiopatologia da SOP  

A SOP é uma condição marcada por níveis elevados de andrógenos, irregularidades no ciclo menstrual e a presença de pequenos cistos nos ovários (em um ou em ambos). É possível classificar a doença em duas vertentes: a morfológica, que se caracteriza pelos ovários policísticos, e a bioquímica, onde predomina a hiperandrogenemia, que pode levar à inibição do desenvolvimento folicular, à formação de microcistos, à anovulação e a alterações no ciclo menstrual [2]. 

A SOP é considerada uma condição oligogênica, em que a interação de diversos fatores genéticos e ambientais contribui para a expressão heterogênea da doença, tanto em seus aspectos clínicos quanto bioquímicos. Embora a origem genética da SOP permaneça incerta, observa-se com grande recorrência a presença de histórico familiar [2]. 

A fisiopatologia da SOP envolve primariamente disfunções no eixo hipotálamo-hipófise, na secreção e ação da insulina, bem como na função ovariana. Embora a causa subjacente da SOP permaneça obscura, cada vez mais estudos demonstram uma forte associação com a resistência à insulina e a obesidade [3]. 

De fato, a resistência à insulina tem sido reconhecida como um contribuinte-chave para a doença, uma vez que pacientes com SOP apresentam risco aumentado para o desenvolvimento de síndrome metabólica, diabetes tipo 2 e doenças cardiovasculares [3].   

A insulina desempenha um papel importante na regulação da função ovariana, e a estimulação excessiva dos ovários por esse hormônio pode resultar na produção elevada de andrógenos, levando à anovulação [2]. 

 

Potencial da Coenzima Q10 e inositol no tratamento da SOP 

Um número crescente de evidências científicas têm destacado o potencial de terapias alternativas, especialmente àquelas relacionadas a compostos nutracêuticos, como o inositol e a Coenzima Q10 [3]. 

Segundo estudos científicos, estes nutrientes apresentam benefícios na melhora da resistência à insulina e dos distúrbios endócrinos e metabólicos no manejo da SOP, além de existirem poucos relatos sobre possíveis efeitos adversos decorrentes do uso [3]. 

Em recente estudo de metanálise, pesquisadores compararam os efeitos da Coenzima Q10, inositóis, além de outros nutrientes, como a vitamina E (isoladamente e em combinação) e vitamina D, sobre parâmetros endócrinos e metabólicos em mulheres com SOP [3]. 

Ao todo, foram analisados 23 ensaios clínicos randomizados, com um total de 1291 participantes avaliados. Dentre os principais resultados encontrados, a meta análise evidenciou que a Coenzima Q10 e sua combinação com vitamina E ou inositol foram efetivas na diminuição dos níveis séricos de testosterona total [3].  

A suplementação com Coenzima Q10 sozinha ou em combinação com vitamina E ou inositol foi eficaz na diminuição da resistência à insulina (HOMA-IR) [3].  

Adicionalmente, o estudo descobriu que a utilização de inositol apresentou excelentes resultados na melhora da resistência à insulina, glicemia e insulina de jejum, triglicérides, colesterol total e LDL-C, aumentando também os níveis de globulina ligadora de hormônios sexuais [3]. 

 

Desfechos sobre o metabolismo glicêmico 

Em estudo clínico realizado por meio da administração de mio inositol, o consumo durante 12 semanas do nutriente por mulheres com SOP foi capaz de reduzir a resistência à insulina e o estado hiperinsulinêmico (figura 2) [4]. 

Figura 1: A) Pacientes sob administração de mio inositol apresentaram redução dos níveis plasmáticos de insulina antes e 30 minutos após a carga oral de glicose. B) Área sob a curva (AUC) da insulina após carga oral de glicose (TOTG). A administração de mio inositol reduziu significativamente a AUC da insulina após 12 semanas de tratamento. Adaptado de Artini et al. 2012 [4]. 

Em outro ensaio clínico randomizado, duplo-cego, controlado por placebo, 86 mulheres com SOP realizaram uma intervenção com Coenzima Q10 ou vitamina E ou combinação dos dois nutrientes por 8 semanas sobre parâmetros de homeostase glicêmica e hormônios reprodutivos [5]. 

Segundo os resultados do estudo, a suplementação com Coenzima Q10 isolada ou em combinação com vitamina E teve efeitos significativos sobre a glicemia de jejum. Houve uma redução significativa da resistência à insulina (HOMA-IR) após administração de Coenzima Q10 [5]. 

O estudo identificou ainda que a suplementação conjunta de Coenzima Q10 e vitamina E diminui os níveis séricos de testosterona total e melhorou significativamente os níveis de globulina ligadora de hormônios sexuais (SHBG) [5]. 

Em resumo, as atuais evidências deixam claro que para mulheres com SOP, a suplementação de inositóis possui benefícios no aumento de SHBG e melhora o metabolismo glicolipídico. Além disso, a suplementação de Coenzima Q10 sozinha ou combinada com vitamina E também pode ser útil na diminuição da resistência à insulina e metabolismo glicêmico. 

Esses são resultados fundamentais que auxiliam e podem orientar médicos na escolha de uma opção terapêutica adjuvante para o tratamento da SOP, conforme as diferenças e características individuais da paciente. 

 

Referência:  

[1] Manzoor S, Ganie MA, Amin S, Shah ZA, Bhat IA, Yousuf SD, Jeelani H, Kawa IA, Fatima Q, Rashid F. Oral contraceptive use increases risk of inflammatory and coagulatory disorders in women with Polycystic Ovarian Syndrome: An observational study. Sci Rep. 2019 Jul 15;9(1):10182. doi: 10.1038/s41598-019-46644-4 

[2] Ndefo UA, Eaton A, Green MR. Polycystic ovary syndrome: a review of treatment options with a focus on pharmacological approaches. P T. 2013 Jun;38(6):336-55. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3737989/ 

[3] Zhang J, Xing C, Zhao H, He B. The effectiveness of coenzyme Q10, vitamin E, inositols, and vitamin D in improving the endocrine and metabolic profiles in women with polycystic ovary syndrome: a network Meta-analysis. Gynecol Endocrinol. 2021 Dec;37(12):1063-1071. doi: 10.1080/09513590.2021.1926975 

[4] Artini PG, Di Berardino OM, Papini F, Genazzani AD, Simi G, Ruggiero M, Cela V. Endocrine and clinical effects of myo-inositol administration in polycystic ovary syndrome. A randomized study. Gynecol Endocrinol. 2013 Apr;29(4):375-9. doi: 10.3109/09513590.2012.743020 

[5] Azimeh Izadi, Sara Ebrahimi, Shabnam Shirazi, Shiva Taghizadeh, Marziyeh Parizad, Laya Farzadi, Bahram Pourghassem Gargari, Hormonal and Metabolic Effects of Coenzyme Q10 and/or Vitamin E in Patients With Polycystic Ovary Syndrome, The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism, Volume 104, Issue 2, February 2019, Pages 319–327, Doi: 10.1210/jc.2018-01221 

[6] Samimi M, Zarezade Mehrizi M, Foroozanfard F, Akbari H, Jamilian M, Ahmadi S, Asemi Z. The effects of coenzyme Q10 supplementation on glucose metabolism and lipid profiles in women with polycystic ovary syndrome: a randomized, double-blind, placebo-controlled trial. Clin Endocrinol (Oxf). 2017 Apr;86(4):560-566. doi: 10.1111/cen.13288 

 

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