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Betaglucana e Imunidade

Dra. Patricia Savoi

CRM-SP 140.483 I RQE 40.206 (Nutrologia)
Pós-graduada em Nutrologia pela Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). Especialização em Terapia Nutricional Clínica e Hospitalar pelo GANEP. Especialização em Nutrologia pelo Hospital Beneficiência Portuguesa – GANEP. Título de especialização em Nutrologia pela ABRAN.

As betaglucanas são grupos de fibras (oupolissacarídeos) naturalmente encontrados na parede celular de bactérias, fungos, algas e cereais.1 Esse tipo de fibras pode ser dividido entre solúvel e insolúvel. As fibras insolúveis facilitam o trânsito intestinal e auxiliam na constipação, enquanto as fibras solúveis diminuem a absorção da glicose e tornam mais lenta a digestão. A maioria das betaglucanas é do tipo insolúvel. Por isso, para que a betaglucana possa modular as funções imunológicas, é essencial que a estrutura primária seja 1,3/1,6.1-4 De forma geral, as betaglucanas originárias de plantas possuem estrutura química de ramificações do tipo beta (1-3) (1-4), enquanto as betaglucanas derivadas de fungos e leveduras apresentam pequenas ramificações com ligações do tipo beta (1-3) (1-6). 

Tais diferenças estruturais podem implicar a atividade biológica dessas fibras. As betaglucanas de leveduras são mais complexas quimicamente e, por essa razão, têm maior poder de estimular o sistema imune.1-4 

As betaglucanas podem ser obtidas por meio da extração de leveduras (Saccharomyces cerevisiae), fungos (shiitake) e algas (Laminaria sp.) ou pela alimentação. Nos alimentos, as quantidades encontradas são, em média, as demonstradas a seguir: em 100 g de cevada ou aveia são encontrados 20 g e 8 g, respectivamente, de betaglucanas. Outros cereais que também contêm betaglucanas (mas em quantidades menores) são: sorgo (6,2 g), centeio (2,7 g), milho (1,7 g), trigo (1,0 g), trigo duro (0,6 g) e arroz (0,13 g).1-4

A grande diferença entre as betaglucanas citadas anteriormente está na atividade das fibras e seu efeito no organismo. 

A betaglucana presente na aveia e em algumas plantas tem estrutura química beta (1,3)(1,4). Ela ajuda a reduzir o colesterol e o aumento dos níveis de açúcar no sangue depois de comer, além de promover saciedade, mas não é absorvível devido à estrutura química.

A betaglucana de Wellmune® é retirada da parede celular da levedura Saccharomyces cerevisiae e tem estrutura química beta (1,3) (1,6), que é a forma absorvível, e atua no sistema imune. Devido a sua estrutura química, ao ser ingerida, tem a capacidade de se ligar aos receptores do sistema imune, melhorando seu funcionamento e deixando em alerta máximo contra ataques de vírus, bactérias e outros invasores.

Apesar de as betaglucanas não estarem (ainda) no hall da fama, elas já são amplamente estudadas há muitos anos. A principal função delas é a ativação imunológica.1 Dessa forma, foram vistos benefícios no combate a doenças infecciosas bacterianas, virais, fúngicas e parasitárias. Além disso, elas participam no controle da rinite e da asma e na redução dos níveis de colesterol, reduzem a resistência à insulina e a pressão arterial e auxiliam na manutenção do peso corporal saudável.1-4

As aplicações das betaglucanas que vêm sendo estudadas são nas doenças que envolvem a participação do sistema imunológico, como as alergias. A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas, causada por uma resposta alérgica em muitos casos.1 Ela afeta 5% a 10% da população e está associada a morbimortalidade significativa. Os estudos mais recentes viram que a administração oral diária de betaglucanas reduz significativamente a inflamação. E, apesar de não serem suficientes como tratamento exclusivo, podem ser usadas em combinação com outras terapias que visam a diferentes aspectos da doença (como níveis de imunoglobulina E – IgE), ser consideravelmente mais econômicas e ter menos efeitos colaterais do que as imunoterapias usuais.1, 5, 6 

Um estudo duplo-cego, randomizado, placebo-controlado, realizado com idosos com idade entre 50 e 70 anos, comparou um grupo no qual os participantes fizeram uso de 250 mg de beta-(1,3/1,6)-glucana (Wellmune®) por dia com um grupo no qual foi utilizado placebo, durante 90 dias de inverno. Foi avaliada a gravidade dos sintomas pelo score Wisconsin Upper Respiratory Tract Infection. Amostras de sangue e saliva foram colhidas no início do estudo e a cada 45 dias para avaliar os parâmetros de imunidade inata. O resultado foi positivo para o grupo que utilizou Welmune®, com redução de 16% no número de dias de sintomas de infecção do trato respiratório superior.6 (Figura 1).

Outro estudo avaliou um grupo composto por 77 mulheres que foram expostas a situações de estresse psicológico moderado por um período de 12 anos. As participantes foram divididas em dois grupos: em um foi oferecido placebo e no outro foram oferecidos 250 mg de Wellmune® (composto de beta-(1,3/1,6)-glucana), por 12 semanas. Essas mulheres foram avaliadas por meio do método Profile of Mood States, que verifica mudanças nos níveis de energia física e mental, e o estado de humor global. Além dessas mudanças no humor, foi avaliada a incidência de infecções respiratórias. As participantes que usaram o Wellmune® apresentaram como resultado redução da fadiga, do estresse e da tensão, e aumento do vigor físico, indicando como conclusão melhora do estado do humor. Quanto aos sintomas respiratórios, Wellmune® reduziu os sintomas respiratórios das vias aéreas superiores, com diminuição de 62% nas infecções respiratórias. 7 (Figura 2)

Outro benefício do uso das betaglucanas pode ser visto na atividade física.8,9

Foram avaliados 60 indivíduos ativos: metade do grupo recebeu placebo e a outra metade recebeu 250 mg de betaglucana combinada na forma de Wellmune® por 10 dias, antes de cada sessão de exercício. Após 10 dias de suplementação com Wellmune® WGP, leucócitos foram estimulados no sangue para a produção de interleucina (IL)-2, IL-4, IL-5 e gamainterferona (IFN-γ). Essas citocinas elevaram-se antes e imediatamente após o exercício em culturas estimuladas por lipopolissacarídeo (LPS) e elevação subsequente foi observada às 2 horas com medidas plasmáticas não estimuladas.

Além das alterações nas citocinas, a suplementação com Wellmune® WGP pareceu reduzir abruptamente a concentração de monócitos no sangue pós-exercício, o que pode ter implicações na vigilância imunológica. As principais conclusões do presente estudo demonstram que o Wellmune® pode ser uma medida preventiva adequada para proteger e impulsionar o sistema imunológico após exercícios estressantes.8 Além disso, outro estudo,9 realizado com maratonistas, demonstrou uma redução de 40% nos sintomas do trato respiratório superior após a suplementação com Wellmune® por quatro semanas, associada a redução de fadiga (38%) e aumento de vigor físico (42%). (Figura 3)

Outra aplicação das betaglucanas é como imunoestimuladores e, consequentemente, antitumorais.1,10 As betaglucanas purificadas de S. cerevisiae inibiram significativamente a metástase pulmonar em células de melanoma.10

Não se pode deixar de falar do efeito benéfico nas crianças. A seguir, compartilho os resultados de três estudos realizados nessa faixa etária com o uso de beta-(1,3/1,6)-glucana, com redução de faltas na escola, redução de 65% das alergias respiratórias e de pele, redução de 70% dos sintomas respiratórios e redução de mais de 60% dos dias dos sintomas.11-13 (Figura 4)

 

 

 Conteúdo desenvolvido pelo departamento médico da DENDRITA HEALTH MARKETING® Produção editorial: DENDRITA HEALTH MARKETING® Copyright 2020 13298_MYR_BRA_v1_GAB

Referências bibliográficas

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9. McFarlin BK, Carpenter KC, Davidson T, McFarlin MA. Baker’s yeast beta glucan supplementation increases salivary IgA and decreases cold/flu symptomatic days after intense exercise. J Diet Suppl. 2013;10(3):171-83.

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11. Li F, Jin X, Liu B, Zhuang W, Scalabrin D. Follow-up Formula Consumption in 3- to 4-Year-Olds and Respiratory Infections: An RCT. Pediatrics. 2014;133(6):e1533-40.

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13. Pontes MV, Ribeiro TC, Ribeiro H, de Mattos AP, Almeida IR, Leal VM, et al. Cow’s milk-based beverage consumption in 1- to 4-year-olds and allergic manifestations: an RCT. Nutr J. 2016;15:19.

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