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DHA para fertilidade e gestação: atualizações do II Consenso da ABRAN

A nutrição é um campo em constante evolução, com novos estudos e descobertas sendo publicadas constantemente. No entanto, existem nutrientes consensos na comunidade científica acerca dos seus variados benefícios proporcionados à saúde humana, como o ômega-3. 

O ômega-3 é uma categoria abrangente de ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa, sendo as moléculas mais ativas o DHA (ácido docosahexaenoico) e o EPA (ácido eicosapentaenoico). Esses lipídios desempenham um papel fundamental na saúde humana, especialmente o DHA, participando de diversas funções e processos fisiológicos [1]. 

 

O que é o DHA? 

O DHA é um nutriente classificado como condicionalmente essencial, uma vez que não é produzido em quantidades suficientes pelo corpo humano [2]. 

A obtenção do DHA pode ser feita por meio da dieta com o consumo de alimentos como peixes marinhos (atum, salmão, cavala e arenque) ou por meio de suplementos de alta concentração. O DHA desempenha diversos papéis fisiológicos, podendo ser encontrado em células cerebrais e na retina. Grandes quantidades de DHA estão presentes na substância cinzenta do cérebro (até 20% de seus lipídios totais) e nos segmentos dos bastonetes da retina [2]. 

A ingestão dietética de DHA tem sido associada a inúmeros benefícios à saúde humana, de acordo com pesquisas científicas. Estes benefícios abrangem o desenvolvimento cerebral e ocular de fetos e bebês, prevenção do parto prematuro, redução do risco de doenças cardiovasculares, bem como melhorias na cognição e na saúde ocular de adultos e idosos [2]. Outras pesquisas ressaltam a capacidade do DHA dietético de influenciar positivamente a microbiota intestinal, suas propriedades anti-inflamatórias e seu papel na regulação do sistema imunológico [3,4]. 

Especialistas recomendam a incorporação diária de DHA na dieta, seja por meio de alimentos ou por meio de suplementos. No entanto, para a maioria da população, atingir os níveis ideais de DHA apenas com a alimentação pode ser um desafio, resultando em ingestões abaixo das quantidades recomendadas. Portanto, a suplementação representa uma alternativa eficaz para aumentar as concentrações de DHA no organismo [5]. 

 

Novas recomendações de consumo de DHA segundo a Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) 

Recentemente, foi publicada uma nova atualização do Consenso da Associação Brasileira de Nutrologia quanto ao consumo e suplementação de DHA durante a gestação, lactação e infância. O estudo considerou todos os artigos revisados por pares relacionados ao tema e que foram publicados até 2022 e disponibilizados em bases de dados como Pubmed/Medline, SciELO e Lilacs [4]. 

 

 Benefícios do DHA na fertilidade 

No aspecto reprodutivo, dietas diferenciadas podem, de fato, impactar positivamente a fertilidade dos casais, além de promover gestações mais seguras. O período pré-concepção é uma grande oportunidade para a promoção da saúde, melhorias na fisiologia materna, metabolismo, composição corporal e estado nutricional [4]. 

Em mulheres, conforme as atuais evidências, o consumo de ômega 3 parece melhorar a maturação e desenvolvimento oocitário, redução de ciclos anovulatórios e aumento dos níveis [6-10]. 

Dessa forma, as recomendações atuais sugerem que mulheres em idade fértil, consumam aproximadamente 250 mg de DHA ao dia para obter benefícios quanto à fertilidade [4]. 

 

Benefícios do DHA na gestação e lactação 

Um número crescente de estudos tem revelado a importância do DHA durante a gravidez e a lactação para o desenvolvimento saudável do bebê. Em ensaio randomizado e duplo-cego, pesquisadores demonstraram que a suplementação materna de DHA reduziu a ocorrência de infecções do trato respiratório superior no primeiro mês de vida do bebê e o número de dias de doença em 1, 3 e 6 meses [11]. 

Já a suplementação com altas doses de DHA durante a gestação contribuiu para o desenvolvimento de um sistema nervoso autônomo mais responsivo em fetos e recém-nascidos, proporcionando uma vantagem adaptativa [12]. 

Em revisão sistemática da Cochrane, foram analisados 70 ensaios clínicos randomizados com um total de 19.927 pacientes. Nesta revisão concluiu-se que a suplementação de ômega-3, especialmente o DHA, durante a gravidez reduz o risco de partos prematuros. Houve uma redução de 11% no risco de parto antes das 37 semanas e uma redução de 42% no risco de parto antes das 34 semanas [13]. 

Uma ampla revisão sistemática com meta-análise apoia a relação entre os níveis de ácidos graxos ômega-3 maternos ou neonatais, o peso ao nascer e o ganho de peso na infância. Segundo as evidências, a suplementação com doses elevadas de DHA e/ou EPA teve um efeito positivo no peso ao nascer e no desenvolvimento da criança [14]. 

Ainda, segundo a atualização do consenso [4], recém-nascidos e lactentes devem receber quantidades suficientes de DHA para promover o desenvolvimento visual e cognitivo ideal, uma vez que são estabelecidas as necessidades e a importância desses ácidos graxos na nutrição infantil. 

Nessa fase, a amamentação representa a principal fonte nutricional para o bebê. Portanto, é crucial que a mãe ingira uma quantidade suficiente de DHA para que as necessidades do bebê sejam atendidas. Na ausência de leite materno, devem ser utilizadas fórmulas infantis enriquecidas com DHA (0,2% a 0,5% dos lipídios totais) [4]. 

 

Recomendações para consumo de DHA na gestação e lactação 

Segundo o consenso, recomenda-se que mulheres grávidas e lactantes consumam diariamente pelo menos 200 mg de DHA. Todas as mulheres grávidas devem receber suplementação diária de DHA na dose de 200 mg, de preferência obtida industrialmente a partir de algas [4]. 

A amamentação deve ser estimulada até os dois anos, uma vez que, garantindo o estado nutricional adequado de DHA na lactação, o leite materno atenderá às necessidades nutricionais do bebê [4]. 

Crianças acima de dois anos devem ter garantida uma ingestão alimentar adequada e suficiente de lipídios ômega-3. No caso de deficiência alimentar comprovada, recomenda-se suplementação de 100 a 150 mg/dia entre 2 e 4 anos e 150 a 200 mg/dia entre 4 e 6 anos [4]. 

Em resumo, a nova atualização do consenso destaca a importância do DHA na dieta sob diferentes aspectos, principalmente para a fertilidade, gravidez e lactação. É fundamental que as gestantes considerem a ingestão de alimentos ricos em DHA, como peixes de água fria, ou recorrem a suplementos de DHA de fontes confiáveis, especialmente nos últimos dois trimestres de gestação. 

Adicionalmente, é essencial que os profissionais de saúde estejam cientes desses estudos e avaliem a ingestão de DHA de suas pacientes, oferecendo orientações sobre como alcançar as recomendações necessárias de DHA durante a gravidez.  

 

Referência:  

 [1] Institute of Medicine (US) Committee on Nutrition, Trauma, and the Brain; Erdman J, Oria M, Pillsbury L, editors. Nutrition and Traumatic Brain Injury: Improving Acute and Subacute Health Outcomes in Military Personnel. Washington (DC): National Academies Press (US); 2011. 13, Eicosapentaenoic Acid (EPA) and Docosahexaenoic Acid (DHA) Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK209320/ 

[2] Li J, Pora BLR, Dong K, Hasjim J. Health benefits of docosahexaenoic acid and its bioavailability: A review. Food Sci Nutr. 2021 Jul 23;9(9):5229-5243. doi: 10.1002/fsn3.2299 

[3] Fu Y, Wang Y, Gao H, Li D, Jiang R, Ge L, Tong C, Xu K. Associations among Dietary Omega-3 Polyunsaturated Fatty Acids, the Gut Microbiota, and Intestinal Immunity. Mediators Inflamm. 2021 Jan 2;2021:8879227. doi: 10.1155/2021/8879227 

[4] Nogueira-de-Almeida, C. A., Ribas Filho, D., Philippi, S. T., Pimentel, C. V. D. M. B., Korkes, H. A., de Mello, E. D., ... & Falcão, M. C. (2022). II Consensus of the Brazilian Nutrology Association on DHA recommendations during pregnancy, lactation and childhood. International Journal of Nutrology, 15(3). Disponível em: https://ijn.zotarellifilhoscientificworks.com/index.php/ijn/article/view/237  

[5] Marshall TA. Dietary Guidelines for Americans, 2010: an update. J Am Dent Assoc. 2011 Jun;142(6):654-6. doi: 10.14219/jada.archive.2011.0248 

[6] Braga DP, Halpern G, Setti AS, Figueira RC, Iaconelli A Jr, Borges E Jr. The impact of food intake and social habits on embryo quality and the likelihood of blastocyst formation. Reprod Biomed Online. 2015 Jul;31(1):30-8. doi: 10.1016/j.rbmo.2015.03.007. 

[7] Hammiche F, Vujkovic M, Wijburg W, de Vries JH, Macklon NS, Laven JS, Steegers-Theunissen RP. Increased preconception omega-3 polyunsaturated fatty acid intake improves embryo morphology. Fertil Steril. 2011 Apr;95(5):1820-3. doi: 10.1016/j.fertnstert.2010.11.021 

[8] Kermack AJ, Lowen P, Wellstead SJ, Fisk HL, Montag M, Cheong Y, Osmond C, Houghton FD, Calder PC, Macklon NS. Effect of a 6-week "Mediterranean" dietary intervention on in vitro human embryo development: the Preconception Dietary Supplements in Assisted Reproduction double-blinded randomized controlled trial. Fertil Steril. 2020 Feb;113(2):260-269. doi: 10.1016/j.fertnstert.2019.09.041 

[9] Mumford SL, Chavarro JE, Zhang C, Perkins NJ, Sjaarda LA, Pollack AZ, Schliep KC, Michels KA, Zarek SM, Plowden TC, Radin RG, Messer LC, Frankel RA, Wactawski-Wende J. Dietary fat intake and reproductive hormone concentrations and ovulation in regularly menstruating women. Am J Clin Nutr. 2016 Mar;103(3):868-77. doi: 10.3945/ajcn.115.119321 

[10] Wathes DC, Abayasekara DR, Aitken RJ. Polyunsaturated fatty acids in male and female reproduction. Biol Reprod. 2007 Aug;77(2):190-201. doi: 10.1095/biolreprod.107.060558 

[11] Imhoff-Kunsch B, Stein AD, Martorell R, Parra-Cabrera S, Romieu I, Ramakrishnan U. Prenatal docosahexaenoic acid supplementation and infant morbidity: randomized controlled trial. Pediatrics. 2011 Sep;128(3):e505-12. doi: 10.1542/peds.2010-1386 

[12] Gustafson KM, Carlson SE, Colombo J, Yeh HW, Shaddy DJ, Li S, Kerling EH. Effects of docosahexaenoic acid supplementation during pregnancy on fetal heart rate and variability: a randomized clinical trial. Prostaglandins Leukot Essent Fatty Acids. 2013 May;88(5):331-8. doi: 10.1016/j.plefa.2013.01.009 

[13] Middleton P, Gomersall JC, Gould JF, Shepherd E, Olsen SF, Makrides M. Omega-3 fatty acid addition during pregnancy. Cochrane Database Syst Rev. 2018 Nov 15;11(11):CD003402. doi: 10.1002/14651858.CD003402.pub3 

[14] Ren X, Vilhjálmsdóttir BL, Rohde JF, Walker KC, Runstedt SE, Lauritzen L, Heitmann BL, Specht IO. Systematic Literature Review and Meta-Analysis of the Relationship Between Polyunsaturated and Trans Fatty Acids During Pregnancy and Offspring Weight Development. Front Nutr. 2021 Mar 25;8:625596. doi: 10.3389/fnut.2021.625596 

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